quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Hora de dormir II (pt. 3)


Depois de escrever sobre minhas variadas e horríveis experiências que eu tive quando era um menino de 8 anos de idade, muitos tem me encorajado a falar sobre o que aconteceu depois. Eu tenho estado hesitante de fazer isso pois me sinto inquieto desde que quebrei o silêncio. Dormir não me tem sido fácil nessas últimas noites. Meu ceticismo, entretanto, continua resistente, e então, vou contar o que eu experimentei no outro quarto.

Esse não será tão longo como o outro, pois o acontecido só durou alguns dias mas o que foi o suficiente para mim.

Se você se lembra, depois que o visitante não deixado me deixou em paz, eu me mudei para outro quarto um ano depois. Esse quarto era muito maior do que o antigo e tinha um clima ameno de boas vidas na atmosfera. Alguns lugares dão sensações ruins. O quarto de antes me deixava nauseante, mas esse não.

Felizmente eu ganhei uma cama normal, o beliche tinha sido destruído e jogado fora (um ótimo começo, posso adicionar). Eu amava meu novo quarto, eu aproveitava o grande espaço para meus brinquedos, eu estava feliz que o lugar era espaçoso o suficiente para que meus amigos pudessem passar a noite, mas no mais eu só estava aliviado de estar fora daquele horrível, agourado lugar da casa.

Na primeira noite eu dormi com prazer, coisa que eu não tinha feito a muito tempo. Claro que eu tinha movido minha cama várias vezes para longe da parede. Eu disse para minha mãe e para meus amigos que eu gostava de usar os cantos entre a cama e parede como esconderijos quando estava brincando.

Eu acordei nos dias seguintes me sentindo relaxado e renovado. Enquanto eu ficava deitado lá vendo algum dos meus desenhos animados favoritos numa pequena televisão portátil, eu notei algo estranho.  Uma antiga poltrona marrom escura que tinha sempre estado no quarto, estava no pé da minha cama, grande e iminente. 

Ela estava usada e desgastada, tínhamos ganhado ela como parte de um conjunto de um primo distante, mas 
ela já tinha sido usada muitas vezes até então. A cadeira em si não era incomum, mas o que me perturbou é que eu poderia jurar que quando eu tinha ido dormir a cadeira estava de costas para a cama, e não estava de frente. Assumi que minha mãe ou meu pai tinha movido-a enquanto eu dormia, provavelmente procurando lá algo que tinham esquecido quando nós trocamos de quarto.

A segunda noite não foi tranquila. Era por volta das 23h e eu podia ouvir a televisão de meus pais do outro lado da casa. O quarto era mais largo no escuro, a única iluminação era apenas uma tonalidade a deriva das luzes da rua pela janela. Eu fiquei ali deitado, feliz. Feliz, até eu ouvir algo bem baixinho, ainda assim, inconfundível.

De primeira eu achei que era o som da minha própria respiração enquanto eu estava descansando, mas então eu parei por um momento, e o som quase inaudível de mais alguém respirando no quarto não se cessou. Continuou, ritmicamente e sem pausa.

Eu fiquei deitado no escuro, ma enquanto eu estava ainda me recuperando de todo o terror instalado em mim das minhas experiências no quarto anterior, eu não estava completamente aterrorizado. O respirar era tão distante e diferente do chiado que eu ouvia durante meus encontros com a coisa da parede, que permanecia adormecida, e mesmo naquela idade eu achava tão súbito.

Mesmo assim, eu não me arrisquei, sai da cama e fui até o outro lado do quarto ligar a luz. O som tinha sumido. Eu fiquei olhando para aquela velha poltrona virada para minha cama, a poucos centímetros de onde eu dormia, então eu virei ela para o outro lado. Eu não tinha nenhum motivo para fazer isso, mas alguma coisa ali me encheu de medo.

 Na terceira noite eu já não estava tão destemido. Mais uma vez, eu acordei na escuridão. Deitado de costas eu encarei o teto que parecia feliz de absorver toda a luz laranja que vinha da rua. As árvores do lado de fora da minha janela balançavam com uma calma brisa fazendo que se formassem estranhas sombras se movendo nas paredes do meu quarto.

Eu não ouvia mais nada a não ser o barulho do tráfego noturno distante na cidade. Quando eu comecei a adormeceu novamente, eu ouvi; o barulho vinha dos pés da minha cama como se algum tivesse se movido, ou se arrastado no chão.

Eu levantei minha cabeça, espiando na escuridão, mas não vi nada estranho. Tudo estava como tinha estado o dia todo, nada fora do lugar. Eu passei meus olhos pelo quarto; algumas revistas em quadrinhos no chão, algumas caixas que ainda não tinham sido desempacotadas, a poltrona no mesmo lugar que eu deixara, de castas para a minha cama; não havia nada sinistro ali.

Eu estava agora totalmente acordado, olhando a televisão desligada considerando que devia ou não ver alguns programas noturnos. Eu teria que manter o volume baixo porque meu irmão ouviria no quarto do lado e mandaria eu desligar.

Quando eu me sentei direito na cama, eu ouvi de novo. Um rangido baixo, acompanhado de um som. O som do menor dos movimentos. Eu olhei de novo para o quarto. Agora as opacas sombras laranjas feitas pelas folhas da árvore em minha janela tomaram uma forma ameaçadora.

Eu ainda não via nenhum motivo para ficar com medo. Eu encarei a poltrona nos pés da minha e não vi nada incomum nela. É bem comum da mente levar algum tempo para realizar o que está realmente vendo. Leva tempo para ficar realmente apavorado quando você ve algo.

Sim, eu estava olhando para a antiga poltrona no escuto, mas eu também estava vendo que alguém estava sentada nela!

Na luz turva eu podia ver apenas o contorno de trás da cabeça, o resto estava oculto pelas costas da poltrona. Eu fiquei sentado sem emoções, olhando, rezando, esperando que meus olhos estivessem apenas criando uma imagem que não existia. O rangido lento de um movimento em seu trono obscuro gelou a minha essência, então eu percebi que não era um mero truque da falta de luz.

Em seguida ele passou para o lado direito. Eu sabia o que ele estava fazendo, estava virando para olhar pra mim. Foi difícil de fazer, pois mesmo naquele quarto tudo parecia mais escuro do que nunca. Eu vi o que parecia longos cinco dedos escorregando por cima da poltrona, e então outro cinco dedos. O quarto estava silencioso a única coisa que dava para se ouvir era o som da coisa se remexendo na poltrona, e o acelerar do meu coração.

No começo eu conseguia apenas ver o contorno da testa, mas então começou a se erguer revelando dois pontos de luz na escuridão de suas órbitas bem definidas.

Estava me encarando.

(Continua)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sozinho na Cama


Uma criança reclamava para os pais que toda noite algo a perturbava e ela não conseguia dormir direito. Ela dizia que havia algo em sua cama, mas seus pais não lhe deram ouvidos no início.

Algumas vezes eles chegaram a entrar no quarto, mas não havia nada estranho lá.

Com o passar dos dias a criança insistiu tanto na história que os pais acharam melhor fazer uma experiência. Instalaram uma câmera escondida com visão noturna no quarto da criança.

O que encontraram ao lado de seu filho naquela noite lhes deixou aterrorizados.

Essa era a imagem.



E você, já sentiu que alguém estava deitado com você? 

Reservoir


Existe esse restaurante, ele não é propriamente um lugar, uma localidade em sí, mas um conjunto. Nunca é tão grande que dê agonia ou tão pequeno que dê claustrofobia. As mesas e o cenário tem uma decoração extremamente requintada, e por mais que você preferisse estar em um bar de beira de estrada, vai gostar do ambiente.

Infelizmente não possui um endereço fixo, mas alguns dizem que ele vive em sua saudade, em suas memórias mais frágeis, e até mesmo em algum canto quebrado de sua mente.
Eles não entregam em casa e não fazem reservas, mas sempre que você os encontrar, eles terão o melhor lugar no salão separado para sua pessoa. Não se entra acompanhado, apenas sozinho. É um pré requisito para manter o tratamento de alta qualidade. O atendimento é sem igual e a comida, bem, a comida...


Como achá-lo?

Uns dizem que a maneira mais fácil é se entregar à solidão, é se tornar melhor amigo de sí mesmo e da massa enegrecida que vai crescer dentro de você durante esses longos dias de isolamento. Diz-se também para comer apenas pão sem sal e beber água, se abster de sabores durante um longo período. Não há um prazo estabelecido, sabe-se que cedo ou tarde você vai se sentir impelido a sair, e mesmo tendo passado dias preso em casa e comendo só o básico para sobreviver, você se sente inteiramente disposto para ir até lá, e, naturalmente, você sabe onde é.

Antes de sair de casa você põe uma roupa que julga adequada a uma situação deste porte, se barbeia ou se maqueia, se olha no espelho, confere as horas e senta em seu sofá, cadeira, cama, onde preferir. Ao piscar os olhos você estará caminhando por ruas que conhece, mas não vai se lembrar de como chegou ali.

Após longa caminhada a luz fosca do poste que fica de frente ao restaurante se insinua e você a segue.

A faixada é larga e o prédio é só um andar, grande e requintado. Ao chegar na porta o segurança lhe faz uma leve reverência, sem lhe olhar nos olhos, e abre caminho. O recepcionista tem um fino bigode e um sorriso pegajoso, o cabelo encharcado de gel e extremamente magro com sobrancelhas grossas e negras. Então ele pega sua planilha, retira um pedaço de papel vazio e lhe indica o caminho até sua mesa.

O salão aparenta estar vazio, ao longe, como a quilômetros de distância você vê outras pessoas sentadas, em grupos, comendo, rindo, se divertindo,  mas antes que você pense em se levantar para mudar de mesa ou olhar melhor a atividade da aparente festa um garçom altíssimo lhe contém com uma suave mão no ombro e lhe informa que seria falta de educação sair agora, uma vez que seu pedido já estava para chegar. Mas você ainda não havia pedido nada. Não? Mesmo? O garçom tinha a impressão que sim. Longo como um eucalipto e mais magro que o recepcionista o garçom então pergunta se quer olhar o menu ou se deseja o especial do da casa.

Intrigado você resolve olhar o menu e o garçom desliza ao outro lado da sua cadeira e lhe apresenta um menu aberto. Ele mesmo o segura para que você leia, e ele treme como se houvesse bebido café demais, você tem certa dificuldade para ler, mas consegue. No vibrante menu você distingue diversas opções e conhece todas elas, variantes de pão-com-ovo até lagosta ao molho de camarões, que você comeu uma vez num jantar de uma empresa que visitou. A tabela não mostra preços. Se pedir qualquer um deles o garçom lhe informará que não estão disponíveis, e, curvando o corpo como um guindaste ele lhe informa que o especial da casa é a melhor pedida, o preço é modesto, o sabor incomparável e se não estiver disposto a provar, pede-se apenas que se retire gentilmente e nunca mais volte.

Então você toma a decisão. Pode levantar, se retirar e nunca mais voltar, ou ficar e provar o especial da casa, com seu modesto preço e relativo vantajoso custo-benefício.

Se for embora e tentar retornar ao lugar repetindo o dito processo outra vez, falhará terrivelmente.

Se ficar terá todo o tempo do mundo com a longa face paciente do garçom a lhe encarar a mais ou menos 15 centímetros de distância, quase dobrado para lhe encarar, até tomar sua decisão. Então por fim você pede o especial da casa. O garçom se ergue com agilidade e as luzes do teto aumentam e abaixam. Em um minuto o garçom retorna com uma bandeia e põe sobre a mesa. Antes de levantar a tampa o garçom questiona se realmente quer o especial, e lhe informa que na bandeja se encontra o preço a ser pago, mesmo antes do consumo. Você concorda e ao erguer a tampa ele revela um prato simples com uma colher e um copo de água do lado. No prato você vê um montículo de serragem. Serragem. O garçom explica que o preço é saborear a serragem e beber a água, após a refeição principal. Em algo que parece ser uma provocação o garçom pergunta mais 3 vezes se você tem certeza. Quando você responde pela terceira vez que sim olhando para o estranho preço no prato ele tampa bruscamente a bandeia, fazendo um estrondo terrível no salão e fechando a cara. Em fúria ele sai e retorna outro minuto depois com a entrada.

De volta com o sorriso ele lhe serve o seu café da manhã preferido. Seja ele qual for. Ao comer a primeira garfada a mesa se transfigura naquele seu lugar favorito para tomar café, seja uma mesa de avó, seja um sofá no seu apartamento, e o gosto é perfeitamente igual e maravilhoso, tudo que deseja, o garçom lhe traz. A parte que você estranha é a seguinte: Você não se sacia nunca, mesmo comendo quilos e saboreando o paraíso de suas melhores memórias. Pergunta ao garçom e ele lhe responde que é assim mesmo, que os ingredientes são finíssimos e levíssimos. Então, quando você estiver enjoado de café da manhã, após alguns minutos comendo, ou algumas horas, você pede o prato principal. O garçom lhe informa que logo servirá.

Conforme ele traz mais bandeias a mesa aos poucos se transfigura nas suas melhores memórias de almoço, nas mais felizes, nas situações mais diversas, e todo o seu desejo culinário é realizado, você come de se entupir e não se sacia nunca, mas tudo bem, o gosto está maravilhoso mesmo.

Após o tempo que for que você levou no almoço, o garçom lhe trás a janta, seguindo o mesmo padrão das outras duas refeições, infinita em sabor e quantia, mas sem lhe encher o estômago.

Segue-se, por fim, a ceia e, finalizando, uma rodada final de tudo do que você mais ama comer na vida. Ao dar a última garfada antes de se entediar com a maravilhosa refeição, finalmente você se sente satisfeito. O garçom retorna e lhe pergunta se é tudo, se não deseja ficar mais tempo, mesmo tendo ficado por ali já horas, dias, ou até semanas, como preferir, e segue o mesmo padrão, lhe pergunta muitas vezes até ter certeza que você quer mesmo ir embora e quer pagar a conta.

Feliz como nunca esteve antes em sua vida, se sentindo revigorado e refeito, pronto pra enfrentar qualquer demônio que aparecesse dali pra frente após ser tão bem tratado, levando em conta a vida miserável que esteve levando nos últimos tempos, você, satisfeito, paga a conta sem reclamar.

Um prato de serragem com água.

Você come e é exatamente isso, serragem e água, sem sabor, sem apelo, só serragem seca e água.

Ao terminar o prato você se sente empanturrado. Cheio como nunca antes.

O garçom lhe agradece a presença e quando você se sente preparado, se levanta e vai até a saída. O recepcionista lhe agradece e agora você nota como ele o o garçom parecem ser irmãos.

Quando olha para trás pra tentar ver o restaurante mais uma vez, nada mais existe. Simplesmente evaporou. Então, sem questionar as esquisitices da noite, você se vira e quando pisca os olhos está em sua cama, olhando para o teto, e então dorme.

No dia seguinte segue para sua rotina diária e vai tomar seu café, comer seu cereal, seja lá o que for, e, o menos esperado lhe acontece. Um medo terrível vai tomando conta de você.
O gosto é exatamente o último que você provou. Serragem. Até a água. Cada sabor se tornou serragem.

Você corre de bar em bar, restaurante em restaurante, comendo como um louco, sem fome, mas sem se saciar, e sentindo o terrível gosto da serragem em cada mordida de cada prato diferente.

Por dias a fio você vive nesse desespero, sem fome, com vontade de comer para sentir sabor e  sem se saciar, com gosto de serragem em tudo. O sal não ajuda, nem molhos, eles também tem o terrível sabor. Absolutamente tudo.

Então você desiste, não vê saída para a atual situação.

Alguns se matam em dias, outros passam o resto da vida tentando voltar para o restaurante repetindo o processo do pão e da água e do isolamento mas tudo que conseguem é mais desespero. Não há volta.

Você provou a melhor refeição de sua vida, o quanto quis e o quanto pode. Foi avisado do preço e o pagou consciente e satisfeito.

Se lembrando ainda daquela noite você vasculha suas roupas que foram usadas para lavá-las e em um dos bolsos encontra aquele papel branco vazio que o recepcionista lhe entregara. Ao virá-lo uma simples mensagem em letras pretas e cordiais informam:

"Satisfação garantida, não realizamos devoluções."


sábado, 26 de janeiro de 2013

Hora de dormir I (pt.2)


Eu acordei aos poucos. O quarto estava escuro mais uma vez. No momento em que meus olhos se ajustaram a luz eu pude localizar a janela, a porta, as paredes, alguns brinquedos, uma prateleira e... Até hoje eu me arrepio quando penso nisso, não havia nenhum som. Sem som dos lençóis. Sem nenhum movimento. O quarto parecia sem vida. Sem vida, mas não vazio.


O visitante noturno, o não desejado, chiando,a coisa cheio de ódio que tinha me aterrorizado noite após noite, não estava na cama de baixo, estava na minha cama! Eu abri minha boca para gritar, mas nada saiu dela. O terror tinha sumido completamente com a minha voz. Eu fiquei deitado sem ação; se eu não podia gritar, eu não queria que a criatura soubesse que eu estava acordado.

Eu ainda não o tinha visto, eu podia apenas senti-lo. Estava tapado de baixo do meu cobertor. Eu podia ver o contorno, e podia sentir sua presença, mas eu não me atrevia a olhar. O peso da coisa fazendo pressão em cima de mim, uma sensação que eu nunca vou esquecer. Quando eu digo que horas passaram, eu não estou exagerando. Deitado lá, sem emoção, no escuro, eu era nada mais que um garotinho assustado.

Se isso tivesse ocorrido no verão, já teria luz por essas horas, mas o inverno era longo e inflexível, e eu sabia que ainda faltava muito para o nascer do sol, um raiar que eu desejava muito. Eu era uma criança tímida por natureza, mas eu cheguei a um ponto em que eu não podia mais esperar, onde eu não podia mais viver sob essa abominação intima.

O medo as vezes pode as vezes desgastá-lo, fazer de você um farrapo, uma concha de nervos deixando apenas pequenos traços de você para trás. Eu tinha que sair da cama! Então eu lembrei, o crucifixo! Minha mão ainda estava de baixo do travesseiro, mas não havia nada lá! Eu movi meu pulso para procura-lo, tentando fazer o mínimo de vibrações na cama ou sons, mas eu não achei. Eu podia tê-lo jogado para o chão enquanto dormindo ou então... eu mal conseguia pensar nessa possibilidade, tinha sido tirado da minha mão.

Sem o crucifixo eu tinha perdido todas as minhas esperanças. Mesmo sendo novinho, você pode ter uma ideia do que é a morte, e ter um medo bem forte dela. Eu sabia que iria morrer naquela cama caso eu ficasse lá deitado, dormente, passivo, fazendo nada. Eu tinha que sair daquele quarto, mas como? Eu devia pular da cama e tentar a sorte de chegar até a porta? E se a coisa fosse mais rápida que eu? Ou eu devia sair de fininho da cama, tentando não incomodar o visitante?

 Percebendo que ele não tinha se movido enquanto eu tinha me mexido para encontrar o crucifixo, eu comecei a ter estranhos pensamentos.

E se estivesse adormecido?

Não tinha feito muito a não ser respirar desde que eu tinha acordado. Talvez estivesse descansado, achando que finalmente tinha me pego. Que me tinha finalmente em suas garras. Ou talvez estivesse brincando comigo, o que estivera fazendo por várias noites seguidas, e agora na cama de cima comigo, sem minha mãe para me proteger, talvez estivesse esperando um pouco, saboreando a vitória até o último momento possível. Como um animal selvagem brincando com sua presa.

Tentei respirar o mais leve possível, e juntando toda a coragem que eu tinha, com minha mão direita comecei a tirar a coberta de cima de mim lentamente. O que eu encontrei lá de baixo quase parou meu coração. Eu não conseguia ver, mas enquanto minha mão movia a coberta,  raspou em alguma coisa lisa e gelada. Alguma coisa inconfundível como uma mão magra.

Eu segurei minha respiração em terror pois eu achava que agora a coisa sabia que eu estava acordado.
Nada.

A coisa não se agitou, ela parecia morta. Depois de alguns minutos eu coloquei minha mão lentamente de baixo do cobertos e senti um braço magro e mal deformado, meu senso de curiosidade todo errado e confiante crescia enquanto eu colocava minha mão mais para baixo e sentia um bíceps grande desproporcional. O braço estava esticado e apoiado pelo meu peito, com a mão apoiada no meu obro esquerdo como se tivesse me agarrado enquanto dormia. Eu então me dei conta que eu teria que mover o ser cadavérico se eu tinha ainda alguma esperança de escapar dele.

Por alguma razão, a sensação das roupas rasgadas irregularmente em meu ombro fizeram que eu não o movesse. O medo mais uma vez cresceu em minhas entranhas e no meu peito enquanto eu recolhia minha mão em nojo de ter tocado o cabelo oleoso dele.
Eu não podia, eu não queria tocar o rosto daquela monstruosidade, mas até hoje eu ainda fico imaginando como teria sido.

Pelo amor de Deus, ele tinha se mexido.

Ele se mexeu. Foi súbito, mas o aperto em meu ombro e pelo meu peito ficou mais forte. Nenhuma lágrima saiu, mas Deus sabe como eu queria chorar. Enquanto sua mão se enrolava lentamente em minha volta, minha perna raspou pela fria parede onde o beliche ficava encostado. De tudo que já havia me acontecido naquele quarto, aquela era a mais esquisita.  Eu percebi que, essa coisa rançosa que estava me agarrando e sentia prazer em violar a cama de um garotinho, não estava inteiramente em cima de mim. Ele estava saindo de dentro da parede, como uma enorme aranha saindo de sua toca.

De repente, seu aperto passou de uma leve pressão para um aperto súbito ,ele agarrou e puxou minhas roupas como se estivesse com medo que a oportunidade passasse logo. Eu lutei contra, mas seu braço magro era muito mais forte que eu. Sua cabeça se levantou se contorcendo por de baixo das cobertas. Eu me dei conta no momento que ele estava falando comigo, na parede! Eu lutei pela minha vida, eu gritei, chorei, mas ninguém veio para me salvar.

Ele estava com ânsia de me pegar agora porque ele me precisava naquele momento. Pela janela, a janela que parecia muito mais maliciosa de fora, surgiu uma esperança; os primeiros raios de sol. Eu lutei com mais força, sabendo que se eu pudesse aguentar mais alguns minutos, logo ele iria embora. Enquanto eu brigava por minha vida, o maldito parasita se mudou, se arrastando para meu peito, sua cabeça agora saindo de debaixo do cobertor, chiando, tossindo, rouco. Eu não consigo me lembrar de suas feições, apenas me lembro de sua respiração nojenta e fria como o gelo contra minha face.

No momento em que o sol apareceu no horizonte, aquele lugar escuro, aquele quarto sufocante foi banhado em luz do sol.

Eu desmaiei quando seus dedos magricelos rodearam meu pescoço, espremendo toda minha vida para fora de mim.

Eu acordei com meu pai me chamando para o café da manhã, um sinal maravilhoso, sem dúvida! Eu tinha sobrevivido a pior experiência da minha vida! Eu arrastei o beliche com ajuda de meu pai (dando alguma desculpa que não me lembro) para longe da parede, deixando para trás os móveis que eu achava que iam parar a coisa de se abrigar na cama debaixo. Mal eu sabia que a coisa ia tentar pegar a MINHA cama, e pior ainda, me pegar.

Semanas se passaram sem mais nenhum incidente, a não ser em uma noite fria em que eu acordei com o som da mobília onde o beliche antes estava, vibrando violentamente. Um momento passou, e eu fiquei deitado lá com a certeza que eu podia ouvir um chiado distante muito familiar vindo de dentro da parede, finalmente desaparecendo lentamente.

Eu nunca contei essa história para ninguém antes. Até hoje eu acordo desesperado e suando frio quando eu ouço os lençóis se mexendo de noite, ou com algum chiado estranho, e eu certamente nunca mais dormi com nenhuma de minhas camas encostada nas paredes. Pode chamar de superstição se você quiser mas como eu disse, eu não posso dar explicações racionais como paralisia no sono, alucinações, ou que minha imaginação era além do esperado, mas eu posso dizer isso: No ano seguinte eu ganhei um quarto maior no outro lado da casa e meus pais começaram a usar aquele quarto estranhamente sufocante e alongado que antes era meu. Eles falaram que não precisavam de um quarto grande, apenas um grande o suficiente para uma cama de casal e algumas coisinhas a mais.

Eles ficaram dez dias naquele quarto. No décimo primeiro nós nos mudamos. 

(HORA DE DORMIR II EM BREVE....)

Hora de dormir I (pt.1)


A hora de dormir é para supostamente ser um momento feliz para uma criança cansada; já para mim era horrível. Enquanto algumas crianças apenas reclamavam de ter que ir para a cama antes de terminar de ver um filme ou jogar seu jogo favorito, quando criança, a noite era algo de um medo profundo. Em algum lugar da minha mente ainda é.

Sendo uma pessoa que acredita na ciência, eu não posso provar o que aconteceu comigo era objetivamente real, mas posso jurar que o que eu vivenciei era genuinamente o horror. Um medo que na minha vida, eu estou feliz em dizer, nunca foi igualado. Eu vou contar isso para vocês da melhor forma que eu posso, pense o que quiser disso, mas eu já vou estar contente do simples fato de tirar isso do meu peito.

Eu não consigo me lembrar exatamente quando começou, mas minha apreensão de cair no sono correspondeu com a ida para meu próprio quarto. Eu tinha oito anos na época e até lá eu tinha dividido quarto, bem feliz, com meu irmão mais velho. Como é perfeitamente compreensível para um garoto 5 anos mais velho do que eu, meu irmão eventualmente queria um quarto só para ele e em resultado, eu ganhei o quarto do fundo da casa.

Era um pequeno quarto, estreito, ainda assim alongado, largo o suficiente para caber uma cama e alguma cômoda, mas não muito mais que isso. Eu não podia reclamar porque, mesmo naquela idade, eu entendia que não tínhamos uma casa muito grande e eu não tinha uma causa verdadeira para ficar chateado, sendo que minha família era muito amável e carinhosa. Eu tinha uma infância maravilhosa, durante o dia.

Um janela solitária era apontada para nosso jardim dos fundos, nada fora do normal, mas mesmo durante o dia, a luz que se insinuava para dentro do quarto parecia hesitante.
Como meu irmão ganhou uma cama nova, eu fiquei com o beliche que nós costumávamos compartilhar. Mesmo estando chateado de dormir sozinho, eu estava empolgado que eu agora poderia dormir na parte de cima do beliche, o que parecia uma das maiores aventuras que eu já tinha feito.

 A partir da primeira noite eu lembro de sentir um estranho sentimento crescendo lentamente no fundo da minha mente. Eu deitei no topo do beliche, olhando para baixo minhas figurinhas de carros espalhadas pelo meu tapete verde-petróleo. Enquanto imaginava batalhas e aventuras tomando forma nos brinquedos espalhados no chão, eu não podia evitar de sentir que meus olhos estavam sendo atraídos lentamente para a cama de baixo, como se algo estivesse se movendo no canto no meu olhos. Alguma coisa que não queria ser vista.

O beliche estava vazio, impecavelmente arrumado com um lençol azul-escuro dobrado perfeitamente, parcialmente cobrindo dos travesseiros brancos. Eu não pensei em nada na época, eu era uma criança, e o som da televisão dos meus pais que vinha por debaixo da minha porta me dava a sensação plena de segurança e bem-estar.

Eu adormeci.

Quando você está acordando de um sono profundo para alguma coisa em movimento ou se 
mexendo, pode ser que tome alguns segundos para você realmente entender o que está acontecendo. A névoa do sono fica em seus olhos e mesmo em seus ouvidos quando lúcido.
Alguma coisa estava se movendo, não havia dúvida disso.

De começo, eu não estava certo do que era. Tudo estava escuro, quase completamente, mas havia luz suficiente vindo da rua para contornar aquele quarto sufocante. Dois pensamentos apareceram na minha mente simultaneamente. O primeiro era que meus pais estavam dormindo porque o resto da casa estava com as luzes apagadas e em absoluto silêncio. O segundo pensamento era sobre o barulho. Um barulho que tinha obviamente me acordado.

 Enquanto o meu sono ia se desfazendo lentamente, o barulho ia se tornando mais familiar. As vezes os sons mais simples podem ser os mais irritantes, um vento assobiando na janela, o balançar das árvores na rua, os passos dos vizinhos que parecem perto demais, ou, nesse caso, o simples som do lençol da cama farfalhando no escuro.

Era isso; o lençol farfalhando no escuro como se alguém com dificuldade para dormir estivesse tentando ficar confortável na cama de baixo. Eu fiquei deitado lá incrédulo pensando que o som era ou minha imaginação ou talvez meu gato tentando achar algum lugar confortável para passar a noite. Foi quando eu notei minha porta, fechada desde a hora que eu tinha ido dormir.

Talvez minha mãe tinha ido dar uma olhada em mim antes de dormir e então o gato tinha escapulido para meu quarto.
Sim, tinha que ter sido isso. Eu me virei para a parede, fechando meus olhos com a esperança que eu conseguiria dormir de novo. Enquanto me movia, o barulho da cama de baixo cessou. Eu achei que tinha perturbado meu gato, mas então percebi que o visitante na cama de baixo era muito menos mundano do que meu gato tentando dormir, e muito mais sinistro.

Como se tivesse ficado alerta, e descontente com a minha presença, o dorminhoco incomodado começou a se sacudir e se virar violentamente, como uma criança tendo um acesso de mau humor na cama. Eu conseguia ouvir o lençol se torcendo e girando com uma ferocidade crescente. Meu medo apertou, não como o mal-estar que eu tinha tido antes, mas agora potente e aterrorizante. Meu coração acelerou e meus olhos entraram em pânico, procurando qualquer coisa no escuro absoluto.

Eu deixei escapar um grito.

Como a maioria dos meninos novos fazem, eu instintivamente gritei pela minha mãe. Eu conseguia ouvir algo no outro lado da casa se mexer, mas enquanto eu comecei a respirar aliviado que meus pais estavam vindo me salvar, o beliche começou a tremer violentamente como em um terremoto, debatendo contra a parede. Eu não queria pular do beliche com medo que a coisa me alcançaria e me pegaria, me puxando para a escuridão, então eu fiquei lá, com meus dedos brancos de tanto apertar o cobertor em volta de mim. Eu esperei o que pareceu uma eternidade.

A porta finalmente se abriu bruscamente, e eu me deitei banhado em luz enquanto a cama de baixo, o lugar onde ficava o meu visitante não desejado, estava vazia e calma.
Eu chorei e minha mãe me consolou. Lágrimas de medo, seguido pelo alivio, descendo pelo meu rosto. Mas, mesmo pelo terror e então o alívio, eu não contei para ela porque eu estava tão chateado. Eu não podia explicar, mas era como se ele fosse voltar se eu falasse no que tinha estado no meu beliche. Se isso era verdade, eu não sabia, mas como criança eu achava que só porque uma coisa não estava visível, não queria dizer que estava lá, ouvindo.

Minha mãe se deitou na cama de baixo, me prometendo que ficaria lá até de manhã. Eventualmente minha ansiedade diminuiu, meu cansaço me puxando para o sono, mas eu continuei sem descansar, acordando várias vezes por momentos em que eu ouvia o barulho dos lençóis.

Eu lembro que no outro dia eu queria ir para qualquer lugar, estar em qualquer lugar, mas longe do quarto estreito sufocante. Era sábado e eu brinquei fora de casa, feliz com meus amigos. Mesmo que nossa casa não fosse grande, nós tínhamos a vantagem de ter um grandioso jardim nos fundos. Nós brincávamos com frequência lá, e quando o gramado estava cheio nós nos escondíamos nos arbustos, escalávamos a enorme árvore Sicômoro que se estendia acima de todo o resto, e facilmente nos imaginávamos nós mesmos dentro de grandes aventuras em alguma terra jamais explorada.

Por mais divertido que fosse, ocasionalmente meus olhos se viravam para aquela pequena janela; normal, pequena e inofensiva. Mas para mim aquela fino limite era uma janela para um frio, sinistro e tenebroso quarto. Lá fora, o verde exuberante tomando conta de nosso jardim cheio dos sorrisos dos meus amigos, não extinguia o sentimento assustador escalando pela minha espinha; cada pelo ficava de pé. O sentimento de algo naquele quarto, me observando brincar, esperando pela noite quando estou sozinho; ávido, cheio de ódio.

Pode parecer estranho para você, mas quando meus pais me colocaram de volta para aquele quarto a noite, eu não disse nada. Eu não protestei, eu nem se quer inventei uma desculpa para não dormir lá. Eu com uma expressão carrancuda no rosto simplesmente andei para o quarto, escalei os degraus do beliche e esperei. Como um adulto eu teria contado para todos sobre minha experiência, mas naquela idade eu me sentia bobo de estar falando de alguma coisa que eu não tinha como provar. Mas eu estaria mentindo se dissesse que essa era minha razão principal; eu ainda achava que a coisa ficaria enraivada se eu falasse demais nela.

É engraçado como umas palavras podem parecer ocultas na sua mente, não importa o quão evidentes e óbvias elas são. Uma palavra veio a mim naquela segunda noite, deitado lá sozinho no escuro, assustado, ciente da mudança na atmosfera; um espessamento do ar, como se algo tivesse se deslocado nele. Enquanto eu ouvia o primeiro virar casual dos lençóis abaixo, os primeiros batimentos mais fortes enquanto eu percebia que algo estava lá em baixo mais uma vez, aquela palavra, uma palavra que tinha sido mandada para o exílio, filtrada em minha consciência, se quebrando de toda a repressão, gritando, coçando e se cravando em meus pensamentos.

"Fantasma".

Quando esse pensamento veio à minha cabeça, eu notei que o me visitante indesejado parou de se mexer. Os lençóis ficaram imóveis e calmos, mas eles tinham sido substituídos por algo ainda pior. Um respirar baixo, ríspido e rítmico escapou da coisa de baixo. Eu conseguia imaginar o peito da coisa se inflando e desinflando a cada lufada de ar. Estremeci e esperava que além de toda esperança que aquela coisa fosse embora sem nenhuma ocorrência.
A casa ficava em silêncio como na noite anterior, em um manto de escuridão. O silêncio tomava conta, nada além do meu respirar desvirtuado, e claro, do meu colega invisível de beliche. Eu permaneci deitado com medo. Eu só queria que a coisa fosse embora, que me deixasse em paz.

O que a coisa queria?

Então algo inconfundível aconteceu; a coisa se mexeu. Se mexeu de um jeito totalmente diferente de antes. Quando ele se mexeu na cama de baixo parecia como se estivesse sem restrição, sem propósito, quase animalesco. Esse movimento, entretanto, foi feito em consciência, propositalmente, com um objetivo na mente. Aquela coisa que estava deitada na escuridão junto comigo, a coisa que parecia com intenções de aterrorizar um menininho, calmamente e despreocupadamente se sentou. O respirar cuidadoso começou a ficar mais alto sendo que agora apenas algumas finas madeiras separavam meu corpo do respirar que não era desse mundo.

Eu permaneci deitado, meus olhos cheios de lágrimas. Um medo que palavras não podiam descrever pra você nem pra ninguém fluía em minhas veias. Eu não podia acreditar que esse medo podia ainda crescer, mas eu estava errado. Eu imaginava como essa criatura se parecia, sentada e me ouvindo por debaixo do meu colchão, esperando pegar qualquer sugestão de que eu estivesse acordado. A imaginação então ligou uma realidade irritante. A coisa começou a tocar as tábuas de madeira de onde ficavam o meu colchão. Parecia acariciá-las com cuidado, correndo, o que eu imaginava ser suas mãos e dedos, a superfície da madeira.

Então, com uma grande força, cutucou com raiva por entre duas tábuas, bem no colchão. Mesmo pelo acolchoamento, parecia que alguém tinha enfiado seus dedos no lado de meu corpo. Eu deixei sair um grito potente e um chiado, tremendo, e a coisa na cama de baixo respondeu com "gentileza" vibrando e sacudindo o beliche como tinha feito na noite anterior. Pequenos flocos em pó da tinta da parede caíam em meu cobertor enquanto o beliche raspava na parede, pra frente e pra trás.

Novamente eu estava banhado em luz, e minha mãe estava lá, amável, cuidadosa como ela sempre foi, com um confortante abraço e palavras calmas que eventualmente acalmou minha histeria. Claro que ela perguntou o que estava errado, mas eu não podia dizer, eu não me atrevia a falar. Eu simplesmente disse uma palavra várias vezes seguidas.

"Pesadelo."

Esses eventos continuaram a acontecer por semanas, se não meses. Noite após noite eu acordava com o som dos lençóis ou coberta se mexendo. Todas as vezes eu gritava para não dar tempo que a coisa me pegasse. Com cada choro a cama se sacudia mais violentamente, parando com a chegada de minha mãe que passava o resto da noite comigo na cama de baixo, sem nenhum sinal da sinistra criatura para torturar sem filho mais novo.
Com o tempo eu comecei a fingir adoecimento algumas vezes ou vir com qualquer outra razão para dormir na cama de meus pais, mas na maioria das vezes eu ficava sozinho por algumas horas naquele lugar. O quarto onde a luz de fora não ia muito bem. Sozinho com a coisa.

 Com tempo você se torna insensível para quase qualquer coisa, não importa o quão horrível seja. Eu comecei a perceber, que não importava o que, essa coisa não podia me machucar quando minha mãe estava presente. Eu tenho certeza se fosse meu pai a coisa também não poderia me pegar, mas depois de dormir, era quase impossível de meu pai acordar.

Depois de alguns meses eu comecei a me acostumar com meu visitante noturno. Não confunda isso com uma celeste amizade, eu detestava a coisa. Eu ainda tinha muito medo enquanto eu quase podia sentir os seus desejos e personalidade, se é que pode-se dizer assim; preenchido com um ódio forte por mim, ou talvez, por tudo.

Meus maiores medos se realizaram no inverno. Os dias eram mais curtos, e as noites mais 
compridas, deixando o desgraçado com mais oportunidades. Foi um tempo difícil para a minha família. Minha vó, uma maravilhosa, amável e querida senhora, tinha ficado muito mal desde a morte de meu vô. Minha mãe estava dando o seu melhor para mantê-la na comunidade por mais tempo o possível, mas, demência é uma doença cruel e degenerativa, roubando da pessoa suas memórias a cada dia. Logo ela não reconhecia nenhum de nós, e ficou claro que ela teria que se mudar de casa para um asilo.

Antes dela se mudar, minha vó teve algumas noites particularmente difíceis e minha mãe decidiu que iria ficar com ela. Por mais que eu amasse minha avó e sentia nada mais do que angústia pela doença dela, nesse dia eu me senti culpado por meus primeiros pensamentos não por ela, mas para meu visitante noturno que poderia aparecer e ficar sabendo que minha mãe não estava em casa; sua presença sendo a única coisa que eu tinha certeza que me protegia da criatura me pegar.

Eu corri da escola direto para casa e imediatamente tirei a coberta e o colchão da cama de baixo, removendo toda as tábuas e colocando uma velha mesinha de desenho, umas cadeirinhas, uma pequena cômoda. Eu falei para meu pai que estava "fazendo um escritório" o que ele achou adorável, mas eu seria condenado se eu desse a criatura mais uma noite um lugar pra dormir.

Enquanto a noite chegava, eu deitei em minha cama sabendo que minha mãe não estava em casa. Eu não sabia o que fazer. Meu único impulso era de ir de fininho até uma caixa de joias dela e pegar um pequeno crucifixo da família que eu já tinha visto lá antes. Minha família não era muito religiosa, mas naquela idade eu ainda acreditava em Deus e esperava que alguém pudesse me proteger. Embora assustado e ansioso, quando eu botava o crucifixo de baixo do meu travesseiro preso com força em uma das minhas mãos o sono veio a mim eu derivei em um sonho, com o desejo de acordar apenas de manhã sem nenhum incidente. Infelizmente aquela noite foi a mais aterrorizante de todas.

(CONTINUA...)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Velho homem sorridente


Essa história se passa em agosto de 1999. Tentei localizar nos jornais locais que cobriram a história mas está difícil.

Pelos relatos de populares está aqui registrado o ocorrido:

Começa quando um menino, David, se muda para sua nova casa. Ele está empolgado porque vai mudar de escola também, e na sua antiga sofria com a humilhação dos outros meninos. Chegando na casa nova que era próxima a uma fazenda e a quilômetros de estradas e lojas, David decide explorar a casa. Ela parecia relativamente nova, mas haviam decorado-a para se parecer velha. David então decide ir no sótão, lá, em meio a poeira e teias de aranha ele encontra uma caixa de madeira, bem simples, sem trinco. Dentro se encontravam algumas fotos bem perturbadoras.

A primeira foto era de uma sala nessa casa com uma velha mesinha, com uma foto em cima, sendo essa segunda a de um velho sorridente. A segunda foto era de uma menina segurando a mesma foto, caída ao lado da mesinha, com o vestido embebido em sangue. A terceira era de um menino pequeno, nu, no chão, cheio de cortes pelo corpo, com a mesma foto do velho na mão. A última era mais uma criança, sentada contra uma parede, com uma piscina de sangue ao redor e os olhos abertos olhando para o nada, a boca escancarada. David teve a impressão de ver mosquinhas se movendo na foto.

Após olhar as fotos por alguns segundos, David gritou pelo seu pai. Após chamarem a polícia, uma investigação foi feita e a caixa leva embora. David e seu pai não tinham escolha a não ser dormir naquela casa esta noite. Deitado em sua cama, David não conseguia dormir. Andando pela casa ele encontra uma foto no chão, virada de cabeça para baixo, quando a apanha e vira, é o velho homem sorridente. Ele vira para correr e chamar seu pai, mas no momento que o faz, esbarra em algo e cai, olhando para cima vê seu pai, bêbado, cheirando a whiskey e com uma garrafa na mão. Ele tem sido assim desde a morte da mãe de David.

"Não, pai, por favor."

O homem não parece ouvir os apelos do menino e a garrafa vazia sobe e desce diversas vezes, acumulando sangue e pedaços de pele no vidro quebrado.

Na manhã seguinte o corpo de David foi encontrado em estado deplorável, banhado em sangue e tão cortado ao ponto de quase irreconhecível. A foto que a polícia tirou para registro mostrava o que restou de David, e, na única parte intacta de seu corpo, a mão esquerda, estava a foto do velho homem sorridente.






domingo, 20 de janeiro de 2013

Beliche

"Ninguém virá para você"

Isso é o que ele me diz toda a noite enquanto estou em minha tumba de medos e desesperos que a tanto tempo me esquecer. Meu irmão adora me tormentar. Sempre teve grande prazer em meu medo e minha miséria. É sua idéia de diversão.

Me lembro vividamente de todas minhas noites aos meus 3 anos de idade. Toda a noite, por volta das 9 horas, minha mãe me avisava que era hora de dormir. Ela me colocava em meu colchão, na parte de baixo de uma beliche feita de algum aço muito velho. Me beijava a testa antes de dar boa noite, desligando a luz, saindo e fechando a porta. Conforme ficava observando as diversas formas difusas que os móveis formavam com o feixe de luz que vinha do corredor pela brecha de baixo da porta, ouvia a cama de cima se mexer, retorcer e chiar. Fechava meus olhos e chorava em silêncio, sabendo que o jogo cruel de meu irmão estava para começar.
Toda noite ele fazia meu tormento crescer sobre o medo que ele mesmo implantara em mim, sobre a miséria que me aguardava.

"Ninguém virá para você."

Ele começava.

"Ninguém vai te salvar quando eu te levar para o outro lugar."

Eu ficava ali, encolhido dentro de mim mesmo, indefeso, ouvindo assustado as mil e uma torturas que meu irmão planejara praticar comigo. Como quebrar todos meus ossos lentamente até de modo que se curariam quando ele terminasse o último e assim pudesse quebrar todos de novo, e ficar nisso até moer tudo.

Me dizia que um dia faria tudo aquilo, mas por enquanto só queria me ameaçar mesmo, era mais divertido.

Meu irmão adora me atormentar.

Então, essa foi minha infância até eu completar 7 anos. Meu pai decidiu que era hora de se livrar da beliche. Ele tinha comprado elas quando minha mãe estava grávida.

Vivemos em um pequeno flat em Londres, nada muito grande mesmo. Então quando minha mão disse a meu pai que esperava gêmeos, eu e meu irmão, ele apareceu lá em casa com aquela beliche de aço, dizendo ser a perfeita solução pra a falta de espaço. Apesar de sabermos que não a usaríamos até fazer dois anos e meio, já haviam decorado o quarto, completo com a beliche e tudo mais dois meses antes de nós nascermos.

Digo nós, mas deveria dizer eu, pois meu irmão morreu enquanto minha mãe dava a luz. Não sei muito o que aconteceu, hesitava em perguntar aos meus pais sobre, já que o assunto os levava às lágrimas... Então simplesmente não falávamos disso lá em casa.

Não acredito que ainda lembro daquelas coisas. Tenho 27 agora. Tenho meu próprio flat, e um trabalho legal, e uma ótima coleção de pílulas para dormir.

Vou tomar um vidro todo esta noite. Finalmente vou dormir. Ele não vai me manter acordado essa noite. Ah, eu sinto falta da beliche. Pelo menos, quando ele ficava na cama de cima, eu não podia vê-lo.

Meu irmão adora me atormentar.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Galhos no Vento


Finalmente em casa depois de um longo dia de trabalho, após concluir um projeto que meu chefe estava me pressionando para fazer, posso descansar. Vai ser bom mas, a parte que mais me empolga é poder ver meu filho de novo! Finalmente venci a briga judicial com minha esposa para conseguir a custódia dele e agora vou finalmente poder cuidar dele. Arrumei meu quarto extra e deixei praticamente vazio, só com o básico, para decorarmos juntos depois, como ele preferisse. Depois do jantar estava subindo as escadas e quando ele ouviu que eu o fazia, me chamou de seu quarto:

"Papai, não posso dormir, tem um monstro na janela!"

Monstro, bem original pra uma criança.

"Ah, não se preocupe, são só os galhos da árvore no vento. Está vendo?"


Mostrei a ele os galhos e ele confiou em mim o suficiente para voltar a dormir. Dei-lhe um beijo de boa noite. Finalmente, hora de dormir. Mal podia ver meus passos, me arrastei até a cama e fiquei pensando em ter que lidar com monstros sendo que amanhã teria de matriculá-lo, comprar roupas de escola, fazer compras... não conseguia colocar os pensamentos em ordem, precisava dormir. Foi então que ele me chamou de novo. Cara, eu adoro esse moleque, mas eu precisava de um pouco de sono!

"Papai, o monstro voltou!" ele praticamente ganiu com medo.

Olhei pela janela: Não, nada além dos galhos da árvore. Fui até lá e abri a janela, provei que não havia nada, só galhos.

"Eu te disse, vá dormir, amanhã temos que acordar cedo."

Ele ainda estava meio incerto pelo que vi, mas o que eu podia fazer, estava cansado demais. De novo, fui até o conforto de minha cama, me deitei, e ouvi seu choro. Foi o basta para mim.

"Tá, eu vou deitar com você e caso veja o monstro basta se agarrar forte em mim."

Voltei ao seu quarto, puxei seu cobertor vermelho e deitei do lado da criança.

Ali deitado, de olhos fechados, comecei a pensar. Eu não tinha comprado lençóis brancos? Olhei meu filho e vi seu pescoço ensanguentado. Foi aí que ouvi o monstro, agora não estava batendo no vidro, mas a alguns passos da janela, dentro do quarto. Não pude fazer nada além de rir. Como não havia percebido que não haviam árvores no meu próprio jardim?

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ickbarr Bigelsteine

Quando eu era pequeno, eu tinha muito medo do escuro. Eu ainda tenho,  mas quando eu tinha mais ou menos seis anos, eu não conseguia passar uma noite inteira sem chorar até que um dos meus pais viessem ao meu quarto para olhar de baixo de minha cama ou dentro do meu armário por qualquer monstro que fosse que estivesse escondido esperando para me comer. Mesmo com abajur, eu continuava a ver vultos se deslocando pelo meu quarto, ou rostos estranhos me observando pela janela do meu quarto. Meus pais davam o seu melhor para me consolar, que era apenas um pesadelo ou uma ilusão da luz, mas na minha cabeça infantil eu estava certo que no segundo que eu adormecesse, as coisas malvadas viriam me pegar.  Na maioria das vezes eu apenas me escondia de baixo das cobertas até ficar tão cansado que caía do sono, mas de vez em sempre eu entrava em pânico com tanto vigor que eu ia correndo e gritando até o quarto de meus pais, acordando meu irmão e minha irmã  no processo. Depois dessas situações, não tinha jeito de ninguém ter uma noite inteira de descanso.
Eventualmente, depois de uma noite traumatizante em particular, meu pais tinham tido o suficiente.
Infelizmente para eles, eles entendiam a futilidade de argumentar com uma criança de seis anos de idade e sabiam que eles não conseguiriam me convencer de me livrar dos meus medos infantis pela razão ou pela lógica. Eles tinham que ser espertos.
Foi ideia da minha mãe costurar um amiguinho para dormir comigo.

Ela juntos vários pedaços aleatórios de tecido e junto com sua máquina de costura ela criou o que eu chamaria posteriormente de Sr. Ickbarr Bigelsteine, ou apenas Ick para encurtar. Ick era um monstro de meia, como minha mãe o chamava. Ele era bastante assustador, tenho que admitir.  Honestamente, olhando para trás agora eu estou impressionado que minha mãe conseguiu criar algo tão estranho e perturbador. Ickbarr tinha as suas costuras fazendo-o parecer um gremlin Frankenstein, com grandes olhos de botão branco e orelhas caídas de gato. Seus pequenos braços e pernas eram feitos de pares de meia listrado branco e preta da minha irmã, e metade de seu rosto era verde feito das meias de futebol do meu irmão. Sua cabeça podia ser descrita como em forma de lampada, e sua boca era um pedaço de pano branco costurado em zig zag para formar algo que parecesse com dentes afiados. Eu o amei de primeira.

De começo, Ick nunca saia de perto de mim. Muito menos depois do escurecer, é claro. Ick não gostava do sol, e ficava chateado se eu tentava leva-lo à escola comigo. Mas estava tudo bem, eu precisava dele somente a noite para manter o bicho-papão longe, no que ele era muito bom. Então toda a noite, Ick me falava onde os monstros estavam escondidos, e eu o colocava no local que ele tinha indicado, perto dos monstros. Se algo estava no armário, Ick bloqueava a porta. Se era uma criatura negra arranhando minha janela, Ick ficava contra o vidro. Se era uma gigante besta peluda de baixo da minha cama, então de baixo da cama ele ficava. As vezes os monstros não estavam nem no meu quarto. As vezes eles estavam escondidos nos meus sonhos, e Ickbarr tinha que entrar dentro dos meus pesadelos. Era divertido trazer Ick para meu mundo dos sonhos, ele passava horas lutando com demônios e fantasmas. A melhor parte era, que nos meus sonhos, Ick podia falar comigo de verdade. "O quanto você me ama?” Ele perguntava.
"Mais do que qualquer coisa no mundo." Eu o falava sempre. Uma vez em um sonho, depois de eu ter perdido meu primeiro dente, Ick me pediu um favor.

"Posso ficar com seu dente?”

Eu perguntei porque ele o queria.

"Para me ajudar a matar as coisas ruins." Ele disse.

Na manhã seguinte na hora do café, minha mãe perguntou aonde meu dente tinha ido. Pelo o que ela tinha dito, a fada do dente não o tinha encontrado debaixo do meu travesseiro.  Quando eu falei para ela que eu tinha dado para Ickbarr, ela apenas deu os ombros e voltou a alimentar minha irmãzinha. Daí em diante, toda vez que eu perdia um dente, eu o dava para Ickbarr. Ele sempre me agradecia, claro, e me dizia que me amava. Eventualmente, eu parei de ter dentes de leite, e comecei a ficar um pouco velho para ficar brincando com bonecos. Então Ick estava na minha prateleiras de livros empoeirada, perdendo minha atenção lentamente.

Entretanto, com o tempo, meus pesadelos ficaram piores. Tão ruins que eles começaram a me seguir no mundo real, me aterrorizando em cada canto escuro ou escondidos em arbustos. Depois de uma noite ruim voltando de bike da casa de um amigo meu, eu jurei que um bando de cachorros raivosos estavam me caçando, e eu voltei para casa para achar uma coisa estranha me esperando em meu quarto. Lá, em minha cama, de pé com um brilho suave da lua batendo em si, estava Ickbarr. De primeira achei era apenas meus olhos pregando outra peça em mim, era noite, então eu tentei ligar a luz. Liguei e desliguei no interruptor várias vezes mas a escuridão permanecia. Foi aí que comecei a ficar nervoso.

Eu recuei vagarosamente tentando sair pela porta atrás de mim, meu olhos nunca deixando a sombra da silhueta de Ick, minha mão desjeitosamente atrás da minhas costas tocando a batente da porta. Eu estava pronto para sair correndo dali quando ouvi a porta batendo e fechando, me trancando na escuridão. No nada além de sombras e silêncio, eu fiquei travado no mesmo lugar, não conseguia nem respirar. Por quanto tempo eu não sei dizer, mas depois do que eu achei ser o tempo de uma vida,eu ouvi um som, uma voz familiar.

"Você parou de me alimentar, então porque eu devia te proteger?”

"Me proteger do que?”

"Deixe-me te mostrar."

Eu pisquei uma vez, e tudo tinha mudado. Eu não estava mais no meu quarto, eu estava em outro.... lugar. Não era o Inferno, mas não era muito diferente disso. Era tipo uma floresta, um lugar horrível, de dar pesadelos  onde partes de embriões abortados eram pendurados nas copas das árvores, e o chão era infestado de insetos carnívoros. Uma grossa névoa flutuava no ar com um fedor de carne podre, enquanto raios carregados cruzavam o céu da noite. Ao longe eu conseguia ouvir o grito agonizante de algo não humano. Minha cabeça pulsava como se fosse explodir, a dor me forçando meus olhos chorar como cachoeiras. Na minha mente, eu ouvia a voz dele novamente.

"Isso é o que sua realidade se tornaria sem mim."

Eu senti a terra tremer enquanto sentia pegadas se aproximando rapidamente.

"Eu sou o único que pode parar isso."

Estava atrás de mim agora, enorme e raivoso, o respirar quente na minha nuca.

"Me de o que eu preciso, e eu vou."

Eu acordei antes de poder me virar.

No dia seguinte eu invadi o armário de meus país procurando pelos dentes de leite da minha irmãzinha, e dei todos para Ickbarr. Quase imediatamente as noites de terror acabaram, e eu conseguia mais ou menos continuar com minha vida normalmente. De tempos em tempos eu tinha que ir no quarto da minha irmãzinha e roubar o que era destinado à fada do dente, ou estrangular o gato de algum vizinho e arrancar os pequenos dentes incisivos. Qualquer coisa para me manter longe das visões, qualquer coisa entre dentes tubarão arrancados de um colar ou dentes de animais pequenos.  Eu também comecei a notar que Ick passeava no meu quarto quando eu o deixava por qualquer período de tempo, reorganizar minhas coisas e cobria algumas coisas. Ele estava até começando a parecer mais realista, de alguma forma. Na luz certa  seus dentes pareciam brilhar, e ele era quente ao toque. Por mais que ele me assustava, eu não conseguia juntar coragens de simplesmente destruí-lo, sabendo perfeitamente bem em que situação isso me deixaria. Então eu fui na coleta de dentes por Ick por toda a escola e na faculdade. Quanto mais velho eu fico, mais coisas que eu temo, mais dentes são necessário para Ick me manter seguro.

Agora tenho 22 anos, com um trabalho decente, meu próprio apartamento, e um conjunto de dentaduras. Faz quase um mês desde a última refeição de Ick, e o terror está começando a me cercar novamente. Eu tomei um desvio para a garagem depois do trabalho nessa noite. Encontrei um homem atrapalhado com sua chave do carro. Seus dentes estavam amarelados de uma vida inteira de café e cigarros. Mesmo assim, eu tive que usar um martelo para arrancar os molares. Quando voltei para meu apartamento, ele estava me esperando.  No teto, na quina da parede. Dois olhos brancos e dentes de navalha.

"O quanto você me ama?” Ele perguntou.

"Mais do que tudo" Eu falei, tirando meu casaco.

"Mais do que tudo no mundo."