quarta-feira, 30 de maio de 2012

Download completo


Download completo. Você diz a si mesmo quando o jogo que você queria tanto termina de ser baixado. Você sabe que não é grandes coisas conseguir um jogo novo, mas para você sempre é legal um novo.

Lembra-se de que iria na casa do seu  amigo Garry mais tarde, então veste-se. Quando volta ao seu quarto vê uma mensagem dele dizendo "Download completo".

Se perguntando o que deve ter acontecido com seu amigo, ao que ele não lhe respondia, decide ir logo a sua casa. Provavelmente só um jogo novo que ele baixou ou uma música que ele quer te mostrar.Você sabe como ele ama música.

Quando chega, vê as luzes acesas e a porta destrancada, abre levemente dando olá e a mãe dele lhe atende, sentada no sofá tomando café. "Garry está no quarto" ela diz. Você sobe a porta está trancada. Chama Garry e a porta se abre.  Entra e ele está sentado, encurvado no computador, calado. Você fala algo mas percebe que ele não escuta. Chega perto supondo que ele deve estar ouvindo música, mas percebe que ele não usa fones. Põe a mão em seu ombro ele o observa. Ele esta como rosto longo, os olhos abertos e olhando para o nada, respirando muito devagar.

Você desce desesperado e conta a mãe dele o que está acontecendo, e ela chama a ambulância. Na sala de espera eles lhe dizem que está tudo bem e que ele não parece ter sofrido nenhum trauma. Apenas seus olhos não apresentam movimento algum. Te dizem que você pode ir visitá-lo no dia seguinte.

Por 3 dias ele continua naquele mesmo estado até que você decide visitar a casa dele para vasculhar o quarto com a permissão da mãe dele. Consideraram uma boa ideia, você, talvez, como amigo, pudesse achar a causa daquilo no quarto.

Você vasculha tudo e não acha nada em potencial até ligar o computador  ver uma janela avisando "Download completo", o mouse trava em cima do botão de abrir o arquivo chamado "Newsign.exe". Antes de abrir, você usa o teclado para procurar fóruns sobre o jogo e  acha pouca coisa, falando somente que esse jogo estava desaparecendo de sites especializados.

Curioso sobre como  é o jogo,  você senta confortavelmente na cadeira e clica em abrir.

Algo terrível e maravilhoso prende sua atenção, seu cérebro fervilha em profusão e seus olhos se perdem naquilo, você baba e deixa de sentir o corpo, mas bem, você pode ficar ali um tempo apreciando aquela maravilha de jogo, não é?

Quem são esses entrando no quarto? Porque estão te levando? Essa ambulância não é confortável. Porque você  não consegue se mexer? Essa cama também não é confortável. Seu cérebro está quente, isso  é bom, seus olhos veem muito e nada ao mesmo tempo. Mas olha, é o Garry ali do seu lado. Ele também parece estar jogando o mesmo jogo que você.

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"Em menos de uma semana dois jovens deram entrada no  centro emergencial em estranho estado vegetativo, sem chances aparentes de recuperação. O primeiro, que está aqui a mais tempo, agora se corta com as próprias unhas e grita enquanto ri durante a noite. Estou agora mesmo preenchendo a ficha de um técnico de computação da polícia no mesmo estado que os dois rapazes" - Anotações do diário do Diretor geral do Hospital.

terça-feira, 29 de maio de 2012

92%


Havia um jogo antigo que meu irmão mais velho e eu adorávamos jogar no Sega Genesis. Os anos se passaram - mas eu ainda podia me lembrar dos gráficos e dos áudios claramente.
Não me lembrava do nome do jogo propriamente, então resolvi procurar no Google por "jogos de primeira pessoa do Sega Genesis", e após alguns minutos achei o jogo. Se chamava BloodShot. A história a seguir é real, e você pode até procurar pelo jogo para checar a autencidade (diferente de muitos outros que só dizem ser reais).




Era uma noite entediante em casa, vivo com dois irmãos e meu pai, que estava trabalhando de noite e meus irmãos na casa de amigos. Resolvi jogar alguns jogos antigos do Sega Genesis no emulador do meu irmão. Nenhum jogo durava mais que dois minutos, e foi aí que lembrei de Bloodshot. Procurei na pasta e estranhei não tê-lo achado. Decidi baixar e foi bem fácil. O único problema é que travou aos 92%, e isso foi bem frustrante. de qualquer modo fui até a pasta para onde o jogo seria direcionado e resolvi abrir de qualquer jeito, mesmo sabendo que seria impedindo por avisos de que o arquivo estava incompleto.

Funcionou, não sei como e porque, mas funcionou. Tudo apareceu como de costume, os gráficos, os áudios e tudo mais. Levei um tempo até me acostumar com os controles mas finalmente peguei o jeito. As coisas só ficaram estranhas quando eu abri a porta para entrar na primeira fase e já havia outro avatar pegando as armas e munições. Eu achei realmente estranho porque não lembro dessa função de aliado do jogo, e eu também não estava no modo para dois jogadores e esse jogo é um fóssil; não tem modo online, obviamente.

Me convenci que deveria ser uma modificação do jogo que me desse um aliado e prossegui jogando. Eu apenas segui ele conforme ele matava todos os inimigos e pegava todos os itens, deixando quase nada para mim. Chegamos ao chefe e ele exterminou-o sozinho. Voltamos correndo (quando o chefe morre a fase começa a explodir, então deve-se voltar até o começo). Na segunda fase ficamos parados diante da primeira porta.



Foi ai que eu estranhei meu companheiro. Ele se virou para mim e esperou que eu passasse, então eu fui. Eventualmente, percebi que estava quase morrendo e estive lutando sozinho. Quando me virei para olhar, ele estava correndo contra as paredes até achar uma porta escondida, onde havia uma arma secreta.




Foi ai que percebi que ele estava agindo como um humano, e não como um programa.Prosseguimos na fase e eu notei a falta de algumas paredes (estavam somente invisíveis, ainda funcionavam como paredes), e quando corria até elas para atravessar, o jogo travava. Reiniciei e prossegui da terceira fase, e quando a contagem se iniciou para o começo da fase, percebi que meu aliado vinha correndo da fase que já estava explodindo.

Chegamos até a quarta fase, e ao que aparentava, enquanto mais longe o level, menos paredes e texturas existiam. Antes de atravessar a porta da quarta fase, ele me deu alguns tiros e se virou, esperando que eu abrisse a porta. Foi se como ele estivesse me xingando por tê-lo abandonado na segunda fase. Quando atirei de volta nele, ele não fez nada.



Após derrotarmos o chefe, a fase não começou a se destruir, então percebi que meu aliado estava correndo pela fase até atrás do chefe morto, para achar outra porta secreta. Atrás dessa porta, havia o avatar de um humano. Não um robô como todos os outros, era um humano.
 O meu aliado se juntou ao humano e os dois andaram até mim, até que a tela ficou vermelha como quando se morre e o barulho de tiro se estendeu em um estrondo longo demais. Então eu surgi de novo em uma fase enorme, mas não haviam inimigo, nem armas, nem minas, mas havia um som de tiros ao longe.

Deixei o computador ligado, mas com o jogo pausado. Ele sai do pause sozinho de vez em quando e eu escuto os barulhos do jogo, já que deixei as caixas de som ligadas. Quando me levanto para pausar de novo, vejo um vulto fugir para um canto da dela no exato momento em que eu olho, mas nunca consigo ver o que é. Continuo achando que existe algo me observando.

Sarah


—Quem é essa, mãe?
—Tom, que brincadeira sem-graça! Essa é Sarah, sua irmã...
A garotinha, que tinha um longo cabelo castanho-escuro cheio de cachos, me deu um sorriso.
—O Tom é tão engraçado mamãe!
—É... É isso! Eu só estava brincando.
Disse dando um risinho nervoso.
Muito bem, o que está acontecendo aqui?! Eu tenho certeza de que nunca tive uma irmã. Eu não me esqueceria de algo assim!
—Pois bem senhor engraçadinho — disse meu pai enquanto se dirigia para a porta — não se esqueça de que prometeu cuidar de Sarah enquanto eu e sua mãe saíamos hoje à noite — pensando bem só agora percebi que os dois estavam arrumados para sair.
—Não se preocupe, não me esqueci...
—Bom, então boa noite e quando chegarmos é bom estarem na cama viu?
Dito isto partiram.
Encarei a garotinha que devia ter pelo menos uns sete anos e disse:
—Já pode falar a verdade. Quem é você?
—Tom eu sou sua irmã! Você não pode ter se esquecido de mim!
—Quem é você?!
—Tom!
Ela estava com lágrimas nos olhos, mas eu não ia cair nessa...
—Você pode ter enganado meus pais, mas não vai me enganar! Quem...
—Tom — ela me interrompeu. Notei que suas lágrimas tinham desaparecido. Em seu rosto agora reinava um sorriso que me deu calafrios — eu já te enganei...
—Que?
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—Doutor o que aconteceu com este garoto, digo, o novo paciente?
—Aparentemente a mãe dele o encontrou sentado no chão encarando a parede vazia. Por mais que ela tentasse conversar com ele, ele não respondia. Preocupada com seu único filho ela o trouxe aqui.
—Pobre garoto...
—Sim... Ah, meu horário acabou estou indo para casa. Qualquer problema me ligue.
—Pode deixar. Tchau.
—Tchau.Cheguei em casa e chamei minha esposa.
—Querida?
—Aqui na sala!
Entrei na sala e dei-lhe um beijo. Só então percebi que ela tinha companhia.
—Querida quem é essa?
—Amor, que brincadeira sem-graça! Essa é Sarah, nossa filha...

domingo, 27 de maio de 2012

Visão Periférica


Alguma vez você já teve o vislumbre de algo pelo o canto do se olho? Um simples movimento pego pela visão periférica do seu olho? A maioria das pessoas simplesmente ignora isso como a sobra tremulante de uma vela, ou talvez um cachorrinho pulando de uma mobília. 99 de 100 vezes essas pessoas estão certas.

Mas então há essa visão indescritível. Seria facilmente explicada pelas condições descritas acima, mas há uma sensação errada e estranha a respeito disso. Um arrepio descendo por sua espinha, uma dor passageira. Talvez um branco completo na sua mente, para voltar apenas momentos depois.

Se algum desses sintomas forem sentidos, há talvez motivos para a preocupação. Nossa visão periférica é feita para captarmos movimentos, mesmo no escuro. Isso foi desenvolvido para nos defendermos de predadores no inicio dos tempos, e como outros muitos aspectos da natureza do ser humano, ela não foi “deletada” de nosso DNA, apenas enfraquecida.

Esse ponto de vista com o canto dos olhos serve para ainda nos alertar do perigo, e mesmo que os predadores tenham caído na lista de perigo hoje em dia, eles ainda existem. Se algum dia você sentir aquele frio estranho nas costas, tente não focar nas sombras que você viu pelo canto do seu olho. Provavelmente é melhor você não ver.

sábado, 26 de maio de 2012

Tulpa


Ano passado eu gastei mais ou menos seis meses em algo que podia se chamar "projeto psicológico". Estive procurando no jornal local anúncios de emprego e achei um convidando pessoas criativas que estivessem procurando por um dinheiro fácil. Bem, a partir do momento em que aquele era o único para o qual eu estava relativamente qualificado, liguei para o número do anúncio e arrumei uma entrevista.

Me disseram que tudo que eu precisava fazer era ficar parado, sentado em uma sala, sozinho, com sensores colocados em minha cabeça para ler atividade cerebral, e enquanto eu estivesse lá, eu visualizaria uma duplicata de mim mesmo que eles chamaram de minha "tulpa".

Parecia bem fácil, eu concordei quando disseram quanto iam me pagar. No dia seguinte, comecei.  Me levaram para uma sala simples com uma cama e colocaram sensores na minha cabeça, sensores que estavam ligados a uma pequena caixa preta em uma mesinha ao meu lado. Eles falaram comigo sobre eu visualizar minha duplicata de novo. Eu expliquei a eles que era chato, e eu ficava impaciente, invés de me mexer, eu deveria ver minha duplicata se mexendo e tentar interagir com ela e assim por diante. A idéia era manter ele comigo o tempo todo em que eu estivesse na sala.

Eu tive uns problemas nos primeiros dias. Era muito mais difícil  do que qualquer experiência extra corpórea que eu já houvesse feito. Eu imaginava e visualizava minha duplicata por alguns minutos e então me distraia.   Pelo quarto dia, eu já conseguia  manter ela por mais ou menos 6 horas por perto. Me disseram que eu estava indo muito bem.

Na segunda semana me colocaram em uma sala com auto-falantes acoplados nas paredes. Me disseram que gostariam de ver se eu conseguia manter a tulpa mesmo com estímulos para me distrair.  A música era bem desordenada, feia, inaudível e fazia o processo ser mais difícil, mas eu consegui de qualquer modo. Na semana seguinte, eles tocaram uma música ainda mais insuportável, piorada com loops, distorções, microfonias e algo que pareciam serem vozes guturais falando em idiomas estrangeiros. Eu só ria daquilo, já tinha me tornado profissional em manter a tulpa.

Comecei a ficar entediado com o passar dos dias. Para animar as coisas, comecei a interagir com minha cópia. Conversávamos, jogávamos jo-ken-po, e eu imaginava-o dançando break dance ou qualquer coisa que eu julgasse engraçado.  Perguntei aos doutores se aquilo atrapalharia os estudos, mas eles só me encorajavam a continuar.

Então brincávamos e conversávamos e foi divertido até que as coisas começaram a ficar estranhas... Um dia eu estava contando a ele sobre meu primeiro encontro e ele me corrigiu, dizendo que a garota estava vestindo uma camisa amarela, e não uma verde. Pensei no que ele disse por um momento e notei que ele estava certo. Isso me assustou um pouco, e após o expediente eu falei com os pesquisadores sobre aquilo. "Você está usando ele como forma de chegar ao seu subconsciente", eles explicaram. "Você sabia em algum lugar que estava errado, então se subconsciente lhe auto-corrigiu".

O que era assustador se tornou divertido! Eu podai consultar meu subconsciente e revirar memórias passadas muito facilmente. Minha tulpa podia citar páginas inteiras de livros que eu havia lido anos atrás e se lembrar de coisas que eu havia aprendido no ensino médio e já havia esquecido. Era incrível.

Com o tempo, comecei a levar minha duplicata para fora do centro de pesquisas. No começo tive medo mas então me senti a vontade de sempre que me entediava, o trazia e passava o tempo. Então comecei a trazê-lo tanto que começou a parecer estranho não tê-lo  por perto. Levava-o quando saia com amigos, quando ia a casa da minha mãe, e até levei ele uma vez para um encontro, e uma vez que não precisava falar em voz alta com ele, eu podia manter conversas sem que ninguém soubesse.

Eu sei que pode soar estranho, mas era divertido. Além de ser minha subconsciência e memória sempre ao meu dispor, estava começando a ficar mais atento do que eu mesmo  as coisas ao meu redor, notando detalhes e sinais de linguagem corporal que eu não percebia. Por exemplo, nesse encontro em que o levei, eu pensei que as coisas estavam indo mal a beça, até que ele me apontou sinais de que ela estava rindo demais de minhas piadas e estava dando muitas chances para que eu falasse algo a mais, então eu realmente notei e escutei o que ele dizia e vamos apenas dizer que o encontro se saiu muito bem.

Quando fizeram 4 meses em que eu  estava no centro de pesquisas, ele estava comigo constantemente. Então os pesquisadores vieram até mim e pediram para que eu parasse de visualizá-lo. Eu me neguei, e isso agradou eles. Eu silenciosamente perguntei a minha duplicata o que deveria ter trazido essa idéia e ele simplesmente deu de ombros. Eu também.

Eu me retive um pouco do mundo naquela época. Estava tendo problemas em conviver com as pessoas. Parecia muito que elas não sabiam ou estavam confusas sobre o que falavam, enquanto e tinha uma manifestação de mim mesmo para consultar. Fez com que socializar ficasse estranho. Ninguém parecia ciente do que fazia elas ficarem bravas ou alegres, não apreciam saber a razão por trás de tudo. Eu sabia. Ou pelo menos podia  perguntar a mim mesmo.

Um amigo que confrontou em uma tarde. Ele socou a porta até eu abrir e caiu como uma tempestade em mim, raivoso. "Você não atendeu o telefone por duas semanas seu porra!" Gritou. "Qual é a porra do teu  problema?"

Eu ia pedir desculpas e provavelmente iria com ele a um bar naquela. Mas então minha tulpa ficou furiosa. "Bata nele", ela disse, e antes que eu soubesse o que estava fazendo, eu soquei ele. Ouvi seu nariz quebrar. ele caiu no chão e se levantou balançando, e batemos um no outro até arrebentar meu apartamento. Eu nunca estive tão furioso quanto naquele momento, e não tive piedade. Derrubei-o no chão e dei dois pontapés nas costelas, e foi ai que ele fugiu, machucado e choramingando.

Em alguns minutos a polícia chegou, e eu aleguei auto-defesa, e uma vez que ele não estava lá  para se defender, a polícia me deixou com uma advertência e foi embora. Minha tulpa estava animada o tempo todo, e passamos a noite falando sobre a briga e sobre como eu dei uma bela surra no meu amigo.

Na manhã seguinte vi meu olho roxo e meu corte no lábio, e lembrei do que havia ocorrido para iniciar a briga.  Minha duplicata é que havia se irritado, e não eu. Eu bati em um amigo chateado e me senti bem por isso. Tive vergonha e me senti culpado. A tulpa estava presente, é claro, e sabia meus pensamentos. Então disse: "você não precisa dele". "Você não precisa de mais ninguém". Me arrepiei.

Contei aos pesquisadores tu que se passara e eles apenas riram de mim, dizendo que eu não podia ter medo de algo que eu estava imaginando. Minha tulpa apenas balançou a cabeça e sorriu para mim.

Tentei considerar aquelas palavras seriamente e não ter medo, mas a tulpa estava realmente me incomodando com seu sorriso constante e malicioso, e não havia emprego no mundo que valesse minha sanidade. Evitava olhar ou me concentrar nele, mas sempre que olhava ele estava com os olhos rápidos e mais tenso, então comecei a tentar fazê-lo sumir. Nos primeiros dias foi bem difícil, mas finalmente conseguia manter ele longe por umas horas, mas cada vez que voltava, estava pior e pior, mais tenso, mais alto e ameaçador, com os olhos mais fundos, a pele mais acizentada, os dentes mais pontudos. E cada vez em que ele voltava, aquela música destonada que em faziam ouvir, voltava com ele. Quando estava e casa, tetando relaxar e cochilar, não mais me concentrando nele, ele aparecia, e o barulho agudo junto dele.

Ainda visitava o centro de pesquisas naquela época, e estava fazendo meu trabalho pelas próximas 6 horas, precisava do dinheiro, e achava que eles não haviam percebido que eu não  estava mais visualizando minha tulpa constantemente. Eu estava errado. Dentro de pouco tempo, dois homens me seguraram e me contiveram e alguém com uma jaleco médico aplicou uma injeção hipodérmica em mim.

Acordei de meu torpor preso em minha cama, com a música tocando e minha tulpa sobre mim. Ele mal se parecia mais  com um humano. Tinha os olhos afundados até as órbitas, os dedos longos e deformados, era muito mais alto que eu, porém corcunda. Ele era, em suma, assustador pra caralho. Tentei me concentrar em  não vê-lo, mas não conseguia me concentrar. Ele riu e deu um tapinha na intra-venosa em meu braço. Eu lutei contra as amarras da melhor maneira que pude, mas mal pude me mover.

"Eles estão te enchendo com aquela merda, eu acho. Como vai a cabeça? Tudo confuso?" Ele chegava mais e mais perto conforme falava. Tive náuseas, seu hálito era como carne passada. Me concentrei muito, mas não era capaz de baní-lo.

As próximas semanas foram terríveis. Quase sempre entrava alguem em um jaleco e me injetava algo ou me forçava a engolir uma  pílula. Me mantiveram tonto e inconsciente, e as vezes me mantinham alucinado e  tendo visões. Minha tulpa estava lá, o tempo todo, zombando. Ele interagia, ou talvez até fosse o motor das minhas alucinações. Cheguei a alucinar que minha mãe veio me visitar, me abraçando e chorando, e então ele cortava a garganta dela  e me banhava em seu sangue. Foi tão real que pude sentir o  gosto.

Os médicos nunca falavam comigo. Eu implorava, gritava, pedia em grunhidos e nada. Mas falavam com minha tulpa. Ao menos eu acho... estava tão dopado e alucinado que não sei dizer, mas comecei a me convencer de que ele era real e eu era a cópia. Algumas vezes ele encorajava essa linha de pensamento, outras vezes ria de mim.

Então, um dia, enquanto ele me contava uma história de como ia degolar todos que eu amava, começando por minha irmã, ele parou, um ar tenso cruzou seu rosto e ele colocou a mão em minha testa, como minha mãe fazia para saber se eu estava febril. Ficou parado por um bom tempo e sorriu. "Todos os pensamentos estão criativos", ele me disse, então saiu pela porta.

Após três horas vieram a meu quarto e me injetaram algo muito forte, de modo que desmaiei, e quando acordei, estava deitado, desamarrado e livre. Levantei, corri até a porta e estava destrancada. Abri e corri por um longo corredor vazio, abri outra porta e tropecei escadas a baixo até a porta dos fundos do prédio. Desmaiei de novo, devido a dor, gritando feito uma criancinha. Sabia que deveria continuar correndo, mas não conseguia.

Cheguei em casa, de algum modo. Tranquei a porta e coloquei um armário na frente.Tomei um longo banho e dormi por um  dia e meio. Ninguém veio a minha casa naquele dia, nem no seguinte, nem no próximo nem no outro, por uma  semana me mantive naquele quarto. Havia acabado. Pareceu um século. Eu havia tirado tanta coisa da minha vida que ninguém se importo com o fato de eu estar desaparecido.

A polícia não achou nada. O centro de pesquisas estava vazio quando investigaram. A documentação foi inútil e os nomes que eu dei não resultaram em nada. Até o dinheiro que eu havia recebido era irastreável.

Eu me recuperei o máximo que pude. Não saio muito de casa, e quando saio, tenho ataques de pânico. E choro. Choro muito. Não durmo muito, e meus pesadelos são horríveis. Acabou, tento me convencer, eu sobrevivi. Uso as técnicas de concentração que aqueles bastardos me ensinaram, e até que funciona um pouco.

Não hoje. A três dias,  recebi uma ligação de minha mãe. Uma tragédia havia ocorrido. Minha irmã havia sido a última vítima de uma série de assassinatos, dizia a polícia. O assassino sangra as vítimas, então as degola.

Houve o funeral essa tarde, o mais bonito que se pode imaginar, eu suponho.  Eu estive um pouco distraído. Não conseguia pensar direito ouvindo uma música muito baixa, com estática, distorção, sem tom e com microfonia, vindo de longe. Ainda estou ouvindo - mais alto agora.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O lado Negro: Doug Funny




 Para fugir dos clichês do "Eu trabalhava nos estudios da..." ou então "encontrei uma fita na lixeira", vou postar duas creepypastas de Teorias sobre desenhos animados essa semana. Espero que gostem!
Doug viaja em LSD para aguentar Sr. Dink molestando-o.

Quando Doug se mudou para Bluffington, seu vizinho Sr. Dink imediatamente o percebeu. A primeira coisa que ele fez foi convida-lo para sua casa para "mostrar um filme". No dia seguinte, depois de sair até o lago Lucky Duck, ele estava limpando a lama de Costelinha. Derepente, Sr. Dink apareceu entre os arbustos com uma câmera. Ele diz que estava apenas tentando tirar uma foto de um "Neematoad" (N.T: Monstro fictício da Série Doug Funny), mas claramente ele estava tentando tirar uma foto do seu novo vizinho.

Sr. Dink está sempre convidando Doug para sua casa para mostrar à ele um novo produto "muito caro", mas na maioria das cenas nunca podemos ver o que Mr. Dink está fazendo com Doug. É curioso pensar o porque um senhor maduro de idade está constantemente convidando uma criança para sua casa para mostrar "equipamentos caros" que são propensos a quebrar. Sr. Dink está sempre oferecendo a Doug que trabalhe com ele em qualquer projeto no seu barracão.  Esse barracão é cheio de trancas de segurança em sua porta (obviamente Bluffington não é tão perigosa assim). Para que isso? Talvez para avisar à Sr. Dink se alguém (como os pais de Doug) está a caminho e ele precisa arrumar tudo. Também, porque Sr Dink está deixando um garoto de 11 anos usar seus equipamentos e recursos de graça? Devia haver algum tipo de pagamento que Doug fazia para ele.

Também, Sr. Dink não tem filhos. Ele também é chefe da tropa Bluffscout de escoteiros de Doug. Se isso não é estranho o suficiente, você pode requer ao episódio onde Doug, Skeeter e Sr. Dink se perdem na viagem de canoagem. Sr. Dink então vai para a floresta procurar por um acampamento. Depois de um tempo os dois garotos vão atrás dele procura-lo. Quando encontram-no, ele esta totalmente nu em cima de uma árvore olhando para eles "DESCULPA MENINOS, DEVO TER PERDIDO MINHAS CALÇAS HUK-HUH"... Como isso não é um sinal vermelho?!
Sr. Dink em cima da árvore no episódio da viagem de canoagem.


Doug, confuso, encontra paz em uma curiosa substancia que sua irmã trás para casa. Apesar de nunca vermos Judy dar LSD para Doug, isso é sugerido. Judy é inflexível sobre Doug entrar no seu quarto. (Lembre do episodio quando Doug teve que ir na escola dela? Judy estava puta sabendo que Doug tinha se metido em suas coisas). Talvez isso se deva a que Judy descobriu que  Doug tinha pego um ou dois pedaços do seu papel mata-borrão (N.T: Papel feito para absorver certas substancias, assim como LSD). Então há aquele episodio que Doug está sozinho em casa e vai até o quarto de Judy. Porque ele faria isso? Obviamente ele já havia estado no quarto dela antes. Talvez ele estivesse indo para pegar alguma coisa... especificamente, drogas alucinógenas.

É importante que você note as diferença entre os dias normais de Doug e as viagens no ácido. Tipicamente, os devaneios são mais fantasiais e não tem efeito no mundo a sua volta. As viagens de Doug no ácido tendem a ser mais "realísticas" e mostram uma visão distorcida do mundo a sua volta. Além do mais, a interação de Doug com suas alucinações são observadas por outras pessoas que estão o vendo.

Exemplo de alucinações de Doug:

O episodio onde Doug consegue seu novo Super Pretendo. Sua primeira alucinação é quando ele está no espaço e de repente ele está na sala de aula e Sra. Wingo diz "Doug, o que você está fazendo?" Doug não tem nenhuma ideia do que acabou de acontecer. Roger fala alguma coisa para ele e de repente ele todo fica pixelado. Então Roger fala "O que você está olhando, Funnie?". Também nesse episódio, Doug está olhando para seu livro de escola e a ilha se transforma em uma nave espacial e começa a voar em torno dele. 

No episódio onde Doug vai acampar com os meninos escoteiros, Roger fala para Doug ir pegar lenha. Enquanto ele está na floresta, as árvores perto dele começam a se mexer. A floresta fica toda colorida e se mexe em ondas, e Doug alucina que ele está vendo criaturas verdes no chão; Doug cai e de repende videiras roxas estão acima dele. Então tudo volta ao normal, com Doug no chão e Roger pendendo uma corda acima dele. Todo mundo ri de Doug por ele ter surtado.

No episódio com o filme de terror... Doug começa sua alucinação quando ele está no teatro. Do nada, tudo está escuro e sombrio. As arvores tem rosto e sussurram. Doug olha para cima em direção a luz que se transforma em uma aranha gigante. Ele termina sua viagem dentro de sua casa. Não há cenas de Doug no mundo real voltando para sua casa. Ele vai do teatro direto para sua cama.

Nos episodio acima mencionado em que Doug está sozinho e vai escondido até o quarto de Judy aparentemente por razão nenhuma. Depois ele vai para o porão, e começa a alucinar. Todos os itens se transformam em varias criaturas que começam a ameaçar Doug. Ele então, aterrorizado dessas alucinações ataca um com um aspirador de pó. Então é revelado que a criatura que ele ataca é simplesmente um manequim.

                                        Essas são apenas umas das suas alucinações.

O lado Negro: Action Man: Mission eXtreme




No dia 28 de Junho de 2000, uma equipe de investigadores da polícia fora chamada para recolher evidencias no local de um aparente suicídio de um menino de sete anos de idade. O garoto havia sido encontrado com um cabo do Controle de Playstation enrolado em seu pescoço; havia morrido por estrangulamento. Ele estava sendo observado por sua mãe, que havia saído para ir ao banheiro. Quando ela retornou, encontrou-o morto em frente a televisão. A investigação inicial havia revelado poucas coisas importantes. Ninguém tinha acesso à casa exceto a mãe, e ela não era uma suspeita. Com suspeita de suicídio, a polícia tentou descobrir o motivo, mas não havia nada óbvio para que um garoto normal e feliz de sete anos de idade fizesse tal coisa.

Com nada mais a recorrer, eles decidiram tirar o jogo de dentro do Playstation e examiná-lo. O jogo se chamava Action Man: Mission eXtreme, e a classificação era para maiores de 3 anos, então a policia duvidava muito que o garoto tivesse sido traumatizado por alguma coisa que tivesse visto no jogo. Mas como era a única pista, eles decidiram investigar.

A capa do jogo mostrava Action Man, com os braços cruzados e em frente a uma explosão de fogo. Dois outros personagens, um de aparência doente e o outro cheio de bandagens, pareciam estar correndo para escapar. À esquerda de Action Man estava o rosto sorridente do Dr. X, o vilão da série. Várias anomalias eram evidentes nesta versão da embalagem comparada as outras cópias vendidas na rua. Em primeiro lugar, o título estava diferente. Normalmente era chamado de "Operation Extreme" ou "Mission Xtreme", mas nunca de "Mission eXtreme". Pequenas diferenças e alterações puderam ser vistas nos rostos dos personagens. Os policiais acharam que isso era somente um erro de impressão, e prosseguiram com a investigação.

A apresentação do jogo mostrava Action Man realizando vários movimentos de artes marciais, enquanto seu carro acelerava ao longo dos becos e ruas da cidade. O jogo começou, e Action Man tinha que salvar a cidade dos criminosos que estavam roubando componentes. As instruções do Action Man foram emitidas por uma voz feminina de computador, que terminou de explicar os comandos. Nada fora do comum aconteceu, e a próxima fase foi alcançada. Action Man tinha que se infiltrar em uma base de deserto que estava sendo usada para a fabricação de armas químicas. Os outros policiais que estavam assistindo perderam o interesse, e decidiram ir embora. No entanto, o policial que estava jogando disse que iria continuar, e informar os outros caso encontrasse algo fora do normal.

Ele começou a notar várias e pequenas coisas sobre o jogo que pareciam meio esquisitas. Os inimigos da base não tinham nenhuma arma letal, e às vezes, eles fugiam do Action Man quando ele se aproximava. No entanto, para completar suas missões, você tinha que eliminá-los, atirando ou batendo neles até a morte. O jogo, contudo, dizia no relatório nos finais das missões que os inimigos haviam sido "capturados". O policial presumiu que fora dessa maneira que o jogo obtivera uma classificação de maiores de 3 anos, e não perturbasse as crianças.
Ele destruiu a base, e passou para as próximas missões. Nada parecia muito fora do comum, exceto que os inimigos continuavam a correr de Action Man ao invés de lutar com ele. Em seguida, ele chegou a uma cena, onde Action Man foi capturado por seus inimigos e colocado em uma cela de prisão. Isto era particularmente perturbador para um jogo infantil, já que Action Man fora brutalmente espancado e torturado por seus captores. Quando o policial recuperou o controle do personagem, ele tinha que escapar das câmeras no barco em que ele estava preso, e escapar da prisão. A câmera do jogo tornou-se difusa, e a imagem começou a tremer. Os inimigos, quando encontravam com o protagonista, levantavam suas mãos, mas ele automaticamente atirava neles independentemente. Quando a tela voltou ao normal, os inimigos estavam vestidos com equipamento de combate.

Quando Action Man finalmente terminou a missão, o barco afundou e ele capturou o líder dos soldados no barco. A próxima missão começou com Action Man no Ártico destruindo barcos inimigos. Tudo estava normal, até que uma transmissão veio através do rádio de seus inimigos; toda a transmissão era um ruído, e sons de pessoas gritando. O computador de Action Man ligou, e o informou num tom muito frio para eliminar toda a resistência. A missão continuou normalmente, até o final da luta contra o chefe da fase: Action Man havia destruido um submarino inimigo. Corpos da tripulação podiam ser vistos afundando e boiando no lago. Action Man começou a rir.

O detetive começou a ficar cada vez mais preocupado com o jogo, reverificando a capa. Definitivamente dizia para maiores de 3 anos. A tela de carregamento apareceu, e o contador de inimigos "capturados" havia aumentado, apesar do fato deles terem claramente morrido na missão.

A última missão apareceu, que era intitulada de "Base de Gelo". A missão começou com Action Man usando um arco para eliminar os guardas, que estavam todos desarmados. A missão prosseguiu assim, até chegar a um parte em que haviam vários corredores que Action Man precisava “limpar”. Nenhum dos inimigos aqui ainda tentava atacar; todos eles gritavam e corriam para um canto, mas a missão não progrediria até que eles foram “capturados”. Enquanto o policial relutantemente atirava neles, a tela desfocava cada vez mais, até ficar praticamente impossível de se ver alguma coisa. O policial levantou-se e ejetou o disco. Ele estava um pouco riscado, mas parecia completamente normal. Depois de reinseri-lo e voltar para o ponto onde havia parado, a tela não desfocou mais. Culpando seu cansaço, o policial continuou a jogar.

Depois de Action Man terminar com o resto dos inimigos, ele finalmente chegou ao chefe final: Dr. X. A batalha contra o chefe era muito simples. Dr. X usava uma armadura de robô, e tentava bater em Action Man. O jogador tinha que simplesmente correr para trás enquanto atirava no chefe. Quando Dr. X tropeçava pra trás, o jogador tinha que correr pra perto dele e bater na armadura. Em seguida, o chefe recuperava seu equilíbrio, e teria de se repetir as etapas. Após a batalha finalmente terminar, a cena final do jogo começou.

A cena começou com a base do Ártico explodindo em chamas. A câmera então muda para uma cidade lotada. Civis corriam sem rumo e asfixiavam até a morte, e alguns até explodiam em chamas, sem motivo algum. Então a tela volta para Action Man, que puxa Dr. X pelo pescoço, dá um soco em seu rosto e o leva para uma cela de prisão. Ele tranca Dr. X lá dentro e vai embora. Dr, X começa a gritar, chorar e arranhar as paredes desesperadamente. A câmera dá um zoom no rosto Action Man, enquanto ele se afasta da cela em direção a tela, sorrindo.

Os créditos rolaram em silêncio, sobre o logotipo do Action Man. Depois que terminarem, fotos de infância dos desenvolvedores foram exibidos ao lado de seus nomes. O detetive não encontrou mais nada de estranho, e se levantou, preparado para ir para a cama. Além de algumas cenas e da sensação mórbida do jogo, não viu nada fora do comum. Porem, ele olhou de volta para a televisão, e congelou. As fotos ainda estavam rolando, no entanto, ele reconheceu algumas delas. Não eram fotos dos desenvolvedores do jogo. Eram fotos de crianças que haviam sido assassinados! Ele reconheceu algumas das crianças que foram vítimas dos assassinatos de Moors Murders (Miyra Hindley e Ian Brady), e outros que ele não recordava. Por último, apareceu uma foto de Action Man, com óculos escuros e uma enorme barba, intitulado Alex Mann. A tela ampliou na fotografia e um ruído muito alto começou a tocar nos alto-falantes.

O detetive não apareceu para trabalhar no dia seguinte, então o resto dos policiais decidiram ir pra sua casa para verificar o seu progresso com o caso. Eles tiveram que abrir a porta a força, já que ele não respondia as chamadas. Quando conseguiram entrar, eles o encontraram morto no sofá; haviam vários lápis enfiados em seus olhos. A televisão ainda estava ligada, e uma imagem do Action Man com um sorriso em seu rosto estava na tela. Havia um texto abaixo da imagem:

"Esperamos que tenha gostado de jogar Mission eXtreme, mas você acaba de ser capturado".

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Despertar

Acordei.

É claro aqui. Extremamente claro. Que lugar é esse? Uma prisão? Um hospital? Há quatro paredes sólidas, um colchão duro, e uma pequena fenda. Onde está a porta? Eu não vejo uma porta. Onde Diabos eu estou? Como eu cheguei aqui?

Pense... o que aconteceu? Lembre do que aconteceu... Onde eu estava na noite passada? Onde eu adormeci? Merda... Não consigo pensar. Não consigo pensar em nada. Isso aqui é algum tipo de experimento? Não consigo pensar. Eu não consigo pensar nem na merda do meu nome! Quem sou eu?

ESPERE! Olhe a sua volta, idiota. Paredes sólidas. Quarto trancado. Eu estou em um hospício. É isso. Eu estou louco! Eu estava louco, pelo menos. Aparentemente estou bem agora. Estou curado? Posso sair daqui?

Me levanto. Dou uma olhada em mim. Estou nu. Estou bem limpo, pelo menos, assim como o resto do quarto. Tudo em minha volta é branco e imaculado. É tão claro aqui. 

"Olá? Tem alguém aí? Preciso de ajuda!" Grito. Não há nenhuma resposta.

"Alguém! Por favor!"

Começo a andar em volta sentindo as paredes. Onde está a porta? Tem que haver uma porta aqui. Mas que porra é essa? TEM que ter uma porta!

Não há nada. Paredes lisas sem remendas ou rachaduras. Eu olho embaixo do colchão para ver se há algo a mais no quarto. Não fico surpreso em ver que não há nada em baixo dele.

Estou em um hospício? Isso parece tão irreal. Onde diabos estou? Por que eu não consigo lembrar nem a porra do meu nome???

"Eí, você finalmente acordou, não é?" Eu ouço a voz de um homem velho vindo da fenda. Eu corro até ela, extremamente animado.

"SIM! O que está acontecendo? Quem é você? O que é isso tudo!?" Eu grito entusiasmado. Eu olho pela fenda para ver nada além de escuridão.

"Você não lembra nada disso, lembra?" Ele me pergunta.

"Não. Eu não lembro de nada de antes de acordar agora a pouco."

"Tudo bem." Ele diz, em um to risonho em sua voz. "Eu acho que você vai ser ótimo."

O que? Eu estou tão cansado desse sentimento de estar totalmente perdido. Eu quero entender.

"Por favor," eu imploro. "O que está acontecendo? Quem é você? Quem sou eu?"

Eu ouço apenas silêncio.

"ME FALA!" Grito. Meu berro ecoa pela fenda, e nada me é respondido.

Horas passam.

Eu sou deixado sozinho com meus pensamentos. É tão difícil de vasculhar os corredores da minha mente, e descobrir que diabos eu sou. Isso é tão fora do normal... Eu não sei o porque, pois eu não tenho nenhuma memória da minha vida para comparar com isso, mas eu sei que quero sair daqui. Eu preciso sair daqui.

Eu caminho perto das paredes, sentido cada centímetro delas tentando achar qualquer sinal de uma saída. Não é possível que esse lugar tenha sido construído em minha volta. Como eu não consigo achar nada? Horas e horas passam, sem nada. Eu grito por ajuda até minha garganta doer, mas não adianta de nada. Se existe alguém lá fora, se o homem ainda estiver lá, ele não vai responder. Finalmente, exausto, eu me deito. 

Quando eu acordo há comida para mim. Uma bandeja com pão, arroz, e um pedaço de carne no canto. Há um copo com água também. Estou extremamente faminto, então não tenho nenhuma hesitação enquanto ando até minha comida e a como. É delicioso. Estou tão feliz. Depois que termino tudo, eu finalmente volto ao meu senso e começo novamente a me perguntar quem sou eu.

Eu vou até a fenda e grito, "Olá?"

"Olá!" Eu ouço a voz em um tom alegre.

"Quem é você?" Eu pergunto.

"Você gostou da comida?" É a resposta que eu recebo.

Não estou no momento para merdinhas de jogos. Eu quero respostas.

"ONDE EU ESTOU? ME DEIXEM SAIR DAQUI!"

"Você sairá em breve. Nós temos que ter certeza que você está saudável!"

Mas que merda...? Eu sou apenas um experimento? Eu estou saudável o suficiente. Eu quero respostas, porra, quero saber quem eu sou. E mais importante, quero ser livre.

"ME DEIXE SAIR SEU BASTARDO DE MERDA! EU QUERO SAIR DAQUI!"

A voz tinha ido novamente. Eu grito mais, mas é sem sentido fazer isso. Estou sozinho.

Assim que as horas passam eu passo pela minha rotina de checar as paredes e achar um jeito de sair dali. Eu, obviamente, não acho nada. Eventualmente sinto vontade de usar o banheiro, mas não há lugar algum onde eu possa ir. Eu grito isso alto, mas ninguém me responde. Eu sou muito orgulhoso para fazer minhas necessidades em um canto. Isso é humilhação. Eu não deixarei eles me verem dessa forma. Se é que eles podem me ver. Algo me diz que eles podem. Eu sinto como se eles tivessem sempre me olhando.

As vezes eu deito e choro. Eu berro e grito e choro até que me sinta completamente exausto e durma.

Algo estranho então acontece. Eu sonho.

Na minha mente, estou voando. Há árvores e rios e a luz do sol e tudo é muito estranho. Eu consigo sentir uma sensação estranha no meu estomago e boca. Dói um pouco.

Acordo novamente em minha prisão. Ainda sinto um pouco de dor em meu estomago. Eu esfrego com minha mão e sinto algo estranho. Quando olho pra baixo há uma cicatriz saliente lá. Mas que merda é essa? Sinto a mesma coisa na minha bochecha. Estou chocado, mas no mais com muita raiva. Eles estão jogando comigo. Eles esperam até que eu durma e começando seus malditos jogos. Eu olho para as paredes e grito. Eu quero sair daqui.

"Você está bem?" Eu ouço a voz familiar.

"VOCÊ ME MACHUCOU SEU FILHO DA PUTA! VOCÊ ME CORTOU E ME ABRIU! O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?!" Eu bato na fenda o mais forte que consigo. Eu vou quebrar essa porra. Eu quebrarei até aonde o homem está e vou FAZER ele me dar respostas. Eu bato e bato varias vezes. Minha mão dói muito. Acho que a quebrei. Eu não ligo. Eu apenas continuo batendo e gritando.

"Por favor, se acalme. Desculpe se eu te machuquei. Eu farei com que cure logo. Você está sozinho?" 

Eu me nego a responder. Eu vou ignorá-lo, assim como ele me ignora. FODA-SE ele. Ele não parece ligar se eu respondo ou não. Ele não liga pra mim. Ninguém liga. Eu sou um animal. Eu sou um experimento. Eu sou uma porra de um brinquedo.

"Por favor, não se preocupe. As coisas estão para ficar muito melhores. Eu prometo." Com isso, ele some.

Eu sento no meu pequeno colchão duro, olhando minhas mãos. Dói tanto que eu não consigo mexer um dedo sem sentir uma forte dor em todo meu braço. Os ossos todos estão indo em diferentes direções, mal conseguindo se diferenciar uma mão humana. Só agora eu realizei o que tudo isso é. O que eu fiz comigo mesmo? Aquela fenda não ia se mexer ou quebrar, não importa o que eu fizesse. Nada vai quebrar ou mover. Estou preso. Isso é tudo que existe. Eu estou preso e não vou a lugar algum. Enquanto minha mente começa a divagar, finalmente um estranho pensamento vem a mim. Eu não tenho lugar nenhum para ir...

Quando eu fui dormir, eu precisava URGENTEMENTE o banheiro.Mas agora a necessidade tinha sumido. Eles tinham me aberto e tiraram meus excrementos?! Porque diabos eles fazem isso? O que está acontecendo aqui? Eu tento entender o que esta acontecendo por horas, pensar em algum cenário possível que isso tudo faria sentido. Eu penso em todos os tipos de coisa, mas nada faz com que "isso" faça sentido para mim. Isso é apenas uma loucura aleatória, e não há maneira alguma de eu entender. Então eu apenas desisto. Apenas aceito. É tudo que eu posso fazer.

E o tempo passa.

Eu não sei o quanto. Eu acordo. Eu berro, grito, choro. Há comida para mim, e eu como. A voz fala quase sempre agora e, dizendo coisas idiotas entre linhas que eu nem me importo em tentar entender. Daí eu durmo. Eu sonho as vezes, mas não sempre. As vezes são sonhos ruins. As vezes eu sonho que as paredes vão se fechando em mim, cada vez com menos espaço até que eu seja esmagado. Meus ossos se quebram, e meus pulmões estouram em colapso e sinto isso tudo, devagar. Estou aterrorizado. Estou louco. Quero sair. Eu VOU sair.

Eu acordo mais uma vez, e meu corpo dói. Há uma nova cicatriz no meu peito ao longo das minhas costelas, e outra em minha cabeça. As cicatrizes fazem parte do meu dia-a-dia agora. Nada novo a respeito disso. Apesar que essas pareciam um pouco maior do no usual, e doíam bem mais. Mas essa não era, de longe, a coisa mais incomum desse dia.

Eu olho pelo quarto, e não consigo acreditar no que estou vendo. Há uma garota aqui. Uma garota e ela parece ter por volta dos 17. Está deitada no chão, dormindo do outro lado do quarto, e assim como eu, completamente nua. Ela é linda. Estou cheio de alegria. Eu não sei o que eles tem em mente, mas eu não ligo. Há outra pessoa aqui! Alguém pra tocar, olhar! Alguém sabe que eu sou real! Alguém que talvez me ajude a sair daqui. Eu... Eu estou animado demais. Minha mente está correndo. Da onde ela veio? O que devo fazer?

Eu me levanto num pulo e ando até ela. Eu toco no seu ombro e começo a falar.

"Eí. Olá? Acorde." Os olhos dela piscam e se abrem enquanto ela se foca em mim. Ela está apavorada. Eu não sei pelo o que ela tem passado, mas ela não parece muito entusiasmada por estar com outro ser humano. Ela grita e se encolhe em um canto do quarto. Eu tento acalma-la, mas ela continua do mesmo jeito.

"Por favor, não! Eu não vou te machucar!" Eu digo o mais calmo que consigo. "Eu estou do teu lado. Estou com você! Por favor, se acalme. Confie em mim. Você está bem? Você sabe onde está?" Ela apenas continua encolhida no canto.

"Ouça, Eu estou aqui por tempo demais. Eu não sei que lugar é esse. Você sabe alguma coisa sobre isso tudo? Você sabe quem está nos mantendo aqui? Há outros da onde você veio? Você sabe seu nome?" Ela me responde apenas com um soluço em pânico. "Nós estamos juntos nessa. Estamos juntos aqui. Você não precisa se preocupar. Nós vamos ficar bem. Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos sair daqui. Tá bom? Nós vamos sair daqui." Minhas palavras não significaram nada. Percebi que ela precisava de um tempo pra obter noção da realidade, então foi até a fenda e dei tempo para ela se acalmar.

"Ela vai ficar bem." Eu ouço uma voz baixa vindo da fenda. "Ela apenas precisa de tempo pra se acostumar com isso."

Tenho de admitir. Seja lá quem for essa pessoa, ele sabe o que está fazendo. Eu descobri a um tempo que não tem como usar argumentos para persuadi-lo. Eu apenas olhei pela fenda negra, e não disse nada.

Eventualmente, depois de horas chorando, ela se acalmou. Eu sentei com ela e tentei fazer algumas perguntas. Ela nunca responde e de fato parece não compreender o que estou dizendo. Eu sinto que o sinto da minha voz acalma-a um pouco, então continuo falando. Eu falo pra ela sobre minha experiência aqui começando desde o primeiro dia que acordei. Eu tento relatar cada detalhe que eu consigo lembrar sobre meu tempo na prisão. Logo ela se abraça em mim, e me sinto incrível. O calor, a pele macia do corpo nu dela abraçado contra o meu é diferente de qualquer coisa que eu tenha experimentado nesse quarto frio. Eu passo meus dedos entre seus cabelos e ela geme baixinho. Ficamos sentados lá, no chão, por horas. Eu sei que agora ela entende. Somos eu e ela contra seja lá o que for isso. Independente do que aconteça, nós estamos juntos nessa. Apesar dessa situação de merda toda, me sinto muito melhor agora.

Os dias continuam passando. As cicatrizes começam a desaparecer, e nenhuma nova mais aparece. A comida vem, e agora foi nos dado o "luxo" de ter um lugar para usar o banheiro. Eu e a garota estamos mais próximos. Nós, na verdade, fizemos amor algumas vezes. Ela é meu tudo agora. Eu juro que se tirarem ela de mim, eu não sei o que eu vou fazer.

Nós nos deitamos no chão se beijando agora. Acabamos de fazer amor de novo e foi lindo. Ela confia em mim, e eu nela. Eu nunca a machucaria, e nunca deixaria ninguém tocar nela. "Eu te amo" Eu digo a ela e beijo seu cabelo. Ela sorri e repete de volta para mim. Eu sei que ela entende o significado disso; consigo ouvir no tom de sua voz. Assim que ela cai no sono, eu prometo a mim mesmo que vou sair desse lugar e leva-la comigo.

Então acontece. Eu acordo e ela sumiu. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo, eu fiz apenas que eu acreditasse que não ia acontecer. Eu choro. Grito. Eu vou até a fenda. "O QUE VOCÊ FEZ COM ELA!? ME DÊ ELA DE VOLTA!" Eu bato na fenda e grito.

"Não se preocupe!" A voz que eu estou acostumado diz. "Ela está bem. Ela está apenas em um novo local! É algo que estivemos trabalhando por um tempo. Gostaria de ver?"

Estou confuso. Estou triste. Com medo. Não há motivos para lutar. Ele é meu mestre. Ele tem o poder. Ele tem minha vontade. Eu limpo minhas lágrimas e digo que sim à ele. Eu imploro, na verdade. Eu falo que serei bom, que farei qualquer coisa que ele queira. Eu falo para ele que não vou mais tentar sair ou bater nas paredes e ser mau novamente. "Por favor, apenas deixe eu ficar com ela. Por favor."

"Em breve." Ele diz de volta, quase cantarolando as palavras.

"POR FAVOR!" Eu grito, choro, imploro. Eu não consigo ficar aqui sem ela, eu sabia. Eu faria qualquer coisa para estar com ela. A voz me deixa sozinho de novo e eu quero morrer. Eu faria qualquer coisa para me matar e acabar com isso tudo logo. Mas eu não posso deixa-la. Ela precisa de mim, e eu prometi a ela que nunca a deixaria. Eu choro e grito pelos cantos até tossir sangue. Finalmente eu vomito e desmaio de exaustão. 

Eu acordo em um lugar estranho. Estou sonhando? Só pode ser. Há árvores. Há grama. Um lindo céu sobre minha cabeça. Eu não estou mais na prisão! Não pode ser real! Mas é. Realmente é. Espere.... Isso significa que...?

Corro. Eu corro por todo o lugar procurando por ela. Ele tinha me prometido. Ela tem de estar aqui. Eu estava realmente na minha casa nova. Olho em volta para perceber que estou ainda trancado, mas é muito maior agora. Vejo paredes brancas cercando o local vão até uma altura de 7 metros. Vou me preocupar com isso quando eu estiver com ela de novo. Agora só preciso encontrá-la. As árvores são realmente lindas. Tudo é lindo. Só preciso dela.

Finalmente a ouço. Ela da guinchos de felicidade e corre até mim. Nós nos abraçamos e choramos e nos beijamos apaixonadamente. Estou feliz. Estou tão feliz que me deixaram estar com ela de novo. Estou inteiro de novo e posso finalmente relaxar. Depois de nós dois nos acalmar, decidimos dar uma volta pelo novo local.

Por horas vagamos pelo recinto de parede a parede. Seja lá quem fossem nossos captores, tinhas feito um ótimo trabalho neste lugar. Há um rio que flui inteiramente pelo local todo. Existe uma máquina gigante que sobe para o céu e sobre a parte superior da cerca. Quando nos aproximamos ela nos é oferecida comida. Todo o alimento que poderia querer. E é tudo delicioso. Isso é incrível. Nós provamos tudo, o quanto podemos até ficarmos cheios. Nós estamos tão feliz juntos. Mas ainda... há algo que impeça o novo local de ter total liberdade. Essas malditas paredes. Se nós vamos nos libertar pra descobrirmos que nós somos, onde estamos, teremos que passar essas paredes.Então agora só precisávamos de um plano. 

Os dias passam. Nós aproveitamos um ao outro no nosso paraíso privado, secretamente tentando achar um jeito de escapar dali. O homem da fenda nunca fala com a gente aqui. Mas ainda assim, sei que está nos vigiando. Todos eles estão nos vendo. Eu consigo sentir isso tudo o tempo durante o dia.

Um dia algo aconteceu. Ela viu algo e falou animada para mim "Olha! Olha!", sussurrou. Estou muito orgulhoso com o desempenho do aprendizado da língua com ela. Recentemente ela tem aprendido bastante comigo. O que eu vi foi uma árvore, assim como todas as outras. Mas essa estava perigosamente perto da parede e era alta suficiente pata que pudéssemos escala-la e pular fora daqui. Seria uma queda e tanto, mas provavelmente valeria a pena para ver além dos muros pelo menos. Falo para ela que devemos esperar. Se fizermos algo precipitado sem pensar, poderíamos foder todo o plano. Ela entende, eu sei, mas não gosta. Eu digo para ela se acalmar por um dia ou dois até descobrirmos o melhor jeito de fazer isso. Eu sei que eles estão de olho na gente. Eles só estão esperando que pisemos em falso para que possam nos punir. Eles vão nos separar ou nos colocar no quartinho de volta. Ou pior, os dois. Não POSSO deixar isso acontecer. Não tem jeito.

Tenho quase certeza que finalmente ouvi meu velho amigo novamente. Eu acordo por conta de sua voz sussurrando para mim. Eu olhei em volta, não vi nada. A voz está em todos os lugares e em nenhum lugar. Está dentro da minha cabeça? Estou imaginando isso? Eu não sei mais. Eu não estou disposto a arriscar o jogo se é apenas minha imaginação, por isso eu falo de volta. "O que você quer? O que você fez com a gente? Onde estamos?" Ele ignora todas as minhas perguntas. Eu não estou surpreso por isso. Ele fala comigo, me avisa. Ele sabe do nosso plano. Eu SABIA que eles sabiam. Não temos segredos perante nossos captores. Eles estão em todos os lugares, nos vendo.

"Esqueça isso." Ele fala. "Apenas aproveite sua nova casa."

"PRISÃO" Eu corrijo-o. "Aqui é uma merda de uma prisão. Tudo que eu quero desde que eu acordei aquele dia é a porra da verdade, e eu nunca tive nada de você. Você é doente. Eu estou aqui, sequestrado, por meses, ANOS, APENAS ME DIGA QUEM EU SOU!" Ah voz já havia sumido.

Eu ando por ali pensando em tudo isso. Hoje é o dia. Nós vamos sair daqui. Não importa o que há depois dos muros, eu sei que tem que ser melhor que aqui. Liberdade além dos muros. 

O sol nasce e eu vou até ela. Eu creio que ela devia estar acordando por agora. Quando eu vou para aonde nós costumamos dormir, ela não está lá. Ela nunca foge de mim assim. Onde ela est- Ah, não... Ela já está indo. Será que a voz veio para ela também durante a noite

Eu corro até a arvore. Eu sei que ela está lá. Eu sei que está. Quando eu finalmente chego lá, ela está na metade da escalada. "ESPERE!" Eu grito. Ela olha para mim e sorri. Ela me motiva para eu subir com ela. Eu ainda estou assustado, mas eu percebo que eu consigo me deixar ser. Eu tenho que ficar forte perante estas pessoas, esses bastardos. Eu vou dar tudo que eu tenho para isso.

Juntos, nós dois juntos vamos subindo rapidamente. Vamos cada vez mais alto, e finalmente, FINALMENTE estamos quase no topo. Ela chega até o topo e se inclina em direção à parede. Eu olho para o seu rosto e vejo um expressão de total deslumbre e êxtase. Ela venceu. Ela sabe disso. Seja lá o que ela vê, ela sabe que é a sua liberdade. Ela sorri para mim e eu vejo a curiosidade infantil em seus olhos. Sem poder mais esperar, ela desce um pouco, me beija, e escala até o muro.

MERDA! Eu ouço sua garra no topo do muro e então o caminho até o outro lado em uma bruta queda. Ela grita assim que eu ouço seu corpo batendo no chão do outro lado. Por favor, deixe-a ficar bem. Não deixe que nada aconteça com ela! Sem pensar, eu faço meu caminho ao topo do muro e pulo.

A queda é dura para mim também. Quando aterriso sinto dores como eu nunca havia sentido nem pelas cicatrizes. Mas acho que nada está quebrado, pelo menos. Se está, estou muito preocupado com ela, primeiro. Ela está chorando e segurando a própria perna. Eu dou uma olhada, mas ela parece estar bem. Mas algo está diferente nela. Talvez seja o jeito que a luz está iluminando a sujeira, mas a pele dela parece mais áspera. Ela está suja. Eu também. Finalmente levanto para ver onde estamos.

Nós caímos na lama. Lama muito suja. Estamos roxos, doloridos e assustados. Mas pelo menos estamos livres. Pelo menos temos uma chance. Eu olho para o muro que acabamos de escalar, orgulhoso de nossa realização. Então ouço algo. Um pouco a frente de nós há outra construção. Um prédio enorme em formato de pires com uma porta mecânica que acabara de abrir.

Vamos andando até lá devagar, tomando cuidado para não nos machucar mais. Minhas pernas ainda estão me matando, mas tenho que saber o que tem lá. Assim que nos aproximamos, o prédio faz um barulho incrível que nos faz parar em nossos lugares. Pela porta andam...outros. As únicas outras pessoas que eu já tinha visto.

Deviam haver duas dúzias deles pelo menos. Mas eles não eram que nem a gente. Eles eram mais altos. Mais magros. Usavam roupas. O tom da pele deles eram muito mais clara que as nossas e a ponta de seus dedos eram muito mais longas. Eles eram que nem nós, não á dúvida, mas havia algo muito diferente. Um deles se aproximou de nós.

Ele anda até uns 5 ou seis metros da gente e parou. Ele olhou intensamente para nós.Tudo que pudemos fazer é olhar de volta. Quando ele finalmente fala, fico em choque. Esse homem, o homem que eu estou olhando cara à cara, é o homem da fenda. Ele é a voz que me manteve preso e me atormentando por tanto tempo. Ele é meu único amigo e inimigo.

"O que vocês fizeram?" Ele diz para nós dois. Eu não consigo dizer pelos seu grandes olhos pretos se ele está chateado ou triste. "Vocês arruinaram tudo que fizemos por vocês."

"VAI SE FODER!" Eu grito. "Não vamos mais ser seus escravos!"

Ele nos fita em silêncio pelo o que parece ser minutos. Ele olha para os outros que ainda estão entro da construção. Ele deixa escapar um grande suspiro, e olha de volta para nós.

"Nós sabiam que era apenas uma questão de tempo. Vocês terão que fazer as coisas por vocês mesmo agora. Esse é, eu temo, o único jeito de vocês aprenderem."

Eu não sei o que dizer. Eu não tenho certeza o que ele quer dizem com isso. Eu não tenho certeza se eu realmente me importo. Eu apenas o olho, esperando ao lado do meu amor. Não importa o que, eu sei que não precisarei voltar como as coisas eram antes. Isso é tudo que importa.

Ele anda de volta para a construção e a porta se fecha. Então do nada, maravilhosamente, a construção sobe no ar. Com um flash absurdo os muros e tudo que havia antes sobre nossa prisão havia desaparecido, sem nenhum vestígio que havia um dia existido. A construção flutua mais alto e mais alto até que sumir de nossas visões. Então, finalmente, estamos sozinhos.

Juntos nós vasculhamos a área, procurando por respostas. Eu estava começando a me sentir um tanto ansioso. Estou com fome, e pela primeira vez que eu consigo me lembrar, eu não tenho comida. Não há dispensa, não há maquinas, não há truque de mágica para mim. É apenas eu, ela e o mundo.

Tem sido muito diferente nestes últimos dois anos. Nós estávamos tão perdidos quando eles partiram. Eu me odeio por dizer isso, mas eu gostaria de estar de volta com eles. Eu quero ouvir sua voz novamente e quero minha comida e ficar limpo e que tomem conta de mim. A comida que comemos agora é terrível. O modo como vivemos é terrível. Nós ficamos sujos o tempo todo. Nós nos machucamos. Sempre que vamos dormir estamos sujos, e pela manhã quando acordamos estamos do mesmo jeito quando fomos dormir. Temos que nos limpar e cuidar de nós mesmos. Só depois que nos deixaram foi que percebemos o quanto éramos dependentes deles.

Está frio aqui fora. Temos que matar os animais que vagam aqui e vestir suas peles apenas para nos mantermos aquecido. Sentimo-nos estúpido, sujo, impotente. Nós odiamos o que nos tornamos. Às vezes eu fico acordado à noite e tento recuperar a voz na minha cabeça. Eu tento falar com ele e eu continuo esperando e esperando que ele venha me responder. Mas ele não faz. Seja lá quem eles era, agora se foram. Só restou eu e Eva. Assim como quando nos conhecemos, eu sei que não importa o que aconteça, nós temos um ao outro. Isso me ajuda a passar por tudo isso através dos dias.

Nós crescemos bastante nesse período. Ela está grávida agora, então estamos trabalhando duro para tentar construir um bom abrigo para nossa família. É difícil, mas eu sei que nós podemos fazê-lo. Algumas noites ela desmorona e eu seguro a cabeça e acaricio seus enquanto ela chora. " Onde você acha que eles foram, Adão? Você acha que eles vão algum dia voltar e nos ajudar?" Eu sei que eles não vão.

Eu tento ser forte por ela. "Eu não sei. Talvez venham. Eles nos amaram. Eu sei que eles ainda amam."

Eu beijo seu cabelo como eu fiz tantas vezes antes. Espero, mais do que tudo, que o que eu lhe disse seja.