sábado, 30 de junho de 2012

O Porão



Na pequena cidade de Stull, Kansas, existia uma pequena e antiga capela, no topo de uma colina, rodeada por sepulturas. Ao lado da igreja estava um porão, muito difícil de ser encontrado, já que suas portas haviam sido cobertas por grama que crescera lá. Na frente da igreja, havia uma grande árvore que estava sempre sem folhas. Nenhum dos membros da cidade conseguiam se lembrar de ter visto alguma vez uma folha sequer em seus ramos.

Nos primeiros anos da cidade, bem antes da guerra civil, havia várias famílias de agricultores que viviam por lá. A filha do pastor havia se apaixonado loucamente por um jovem que morava perto de lá, mas teve seu coração partido quando descobrira que o jovem havia engravidado uma outra garota sua cidade. Os dois se casaram, e enquanto a filha do reverendo observavam-nos, juntos e felizes, seu ódio pelos dois só aumentava, até que após 9 meses de dolorosa resistência, seu desprezo transbordou. Pouco tempo depois da criança do casal nascer, a filha do reverendo foi em sua casa.

Eles a cumprimentaram alegremente, mas perceberam, tarde demais, que seus olhos estavam sedentos de sangue... Ela cortou as gargantas daqueles dois que haviam feito sua vida tão miserável, e em seguida, arrastou seus corpos, junto com o filho recém-nascido, até o morro da igreja. Ela colocou os corpos no porão e deixou o bebê ali, entre seus corpos, para morrer de fome. Ela trancou fortemente o porão e se enforcou na árvore em frente à igreja. Os corpos do porão não foram encontrados durante três semanas.

Daquele dia em diante, nunca mais cresceram folhas naquela árvore. Algumas pessoas dizem que sevocê andar no cemitério à noite, você pode ouvir levemente o som do choro arrepiante de um bebê. As pessoas da cidade incendiaram a árvore há muitos anos atrás, na esperança de colocar o espírito da filha do reverendo para descansar. E, mais recentemente, a igreja desabou sobre si mesmo, enterrando o porão já difícil de ser encontrado.

Muitos têm procurado pelas portas, mas os poucos que encontraram e aventuraram-se sob suas profundezas raramente voltavam, com a exceção de alguns que voltaram à luz do sol após cerca de três semanas lá embaixo – quase mortos de fome e cobertos por sangue que não pertenciam a eles.

Egoismo


Marcio era um executivo bem sucedido. Tinha uma grande casa, uma bela esposa e duas adoráveis crianças. Ele era diretor de uma grande empresa, que ficava a apenas dois quarteirões de sua casa. Isso o ajudava muito, pois não precisava de carro para chegar ao escritório. Bastava andar em linha reta até a porta da empresa.


Apesar de ser extremamente egoísta, Marcio se considerava religioso. Como havia uma igreja no caminho rotineiro de seu trabalho, ele costumava fazer um sinal da cruz quando passava pela igreja. Essa igreja sempre estava aberta. De manhã, com alguns fiéis na porta e pouca claridade e a noite, quando Marcio retornava para casa e conseguia ver o padre de costas rezando sua missa rotineira.

A vida desse executivo era regada a muito dinheiro. Sempre em festas sociais, eventos e desfiles glamourosos. Quanto mais dinheiro ele conseguisse melhor pois ele ficaria mais rico ainda. Até que um dia, o destino bateu em sua porta.

Antes de sair para o trabalho, um mendigo tocou a campainha de sua casa. Marcio pediu para a empregada ver o que ele queria. Ela disse que ele gostaria de falar com o Sr. Marcio.

- Mas como esse velho sabe o meu nome? - Indagou Marcio perplexo.

Chegando ao portão, Marcio encontrou um velho, careca e com barbas longas e grisalhas. Sujo e com roupas rasgadas. O velho quase se arrastava pelo chão, lhe suplicando:

- Por favor. Dê me um real. Deus lhe agradecerá em dobro.

- Fora daqui ! - Gritou Marcio - Que falta de respeito é esse com pessoas honestas e trabalhadoras? Saia já de frente da minha casa ou eu chamarei meus seguranças !

O velho saiu da frente de sua casa se arrastando. Parecia estar machucado ou com muita fome. Mas isso não comoveu Marcio, que com um beijo despediu-se de sua esposa e foi trabalhar.

Foi trabalhar pelo mesmo caminho. Passou pela igreja, fez um sinal da cruz e continuou sua caminhada. Nem sequer lembrara do pobre mendigo.

Depois de mais um longo dia de trabalho, Marcio volta para casa, pelo mesmo caminho de sempre. Passa pela igreja, vê o vulto do padre rezando a missa e entra em sua casa.

No dia seguinte, no mesmo horário, o mendigo aparece novamente na porta da casa de Márcio:

- Por favor. Dê me um real. Deus lhe agradecerá em dobro.

- Mendigo insolente, vou chamar a polícia

- Eu só preciso de um real para comprar comida. Por favor, Deus lhe agradecerá em dobro.

Enquanto Marcio discutia com o mendigo, sua esposa tinha ido buscar alguns pães para dar ao mendigo. Marcio, irritadíssimo com o velho e pela atitude de sua esposa, tomou-lhe o pão e o pisoteou. Depois carregou o saco para dentro de casa dando gargalhadas. Ao voltar para o portão, para ir trabalhar, o mendigo não estava mais lá.

E mais um dia se passou na vida de Marcio. E foi assim por uma semana. O mendigo tocava a campainha na mesma hora da manhã pedindo dinheiro, e Marcio a cada dia humilhava mais o pobre coitado. Mas, em um certo dia, o mendigo não apareceu. Marcio dava graças a Deus que aquele monte de lixo havia percebido que não conseguiria nada e fora embora. O grande executivo toma seu caminho para o trabalho calmamente, assobiando de felicidade.

Ao passar na porta da igreja, Marcio resolveu parar em frente e "agradecer".

- Obrigado Deus, por tirar aquele homem da minha casa.

E seguiu seu caminho para o trabalho.

O dia de Márcio segue tranqüilamente. Até o momento que ele passa pela igreja. Marcio vê um movimento estranho na porta do templo. O padre não está rezando a missa hoje. O que haveria acontecido? Marcio resolve entrar para ver o que acontecia e pergunta a uma das fiéis, que chorava desesperadamente:

- O que aconteceu?

- O padre Gabriel morreu - Responde a jovem emocionada

- Mas morreu como?

- Ele havia feito uma promessa a Deus. Queria mostrar que ainda havia pessoas boas nesse mundo e fez jejum por uma semana, para sobreviver com a caridade das pessoas. Morreu de anemia hoje de manhã.

- Que triste - exclama Márcio - Vou fazer uma homenagem visitando o corpo.

Mas, ao chegar ao lado do defunto, Márcio leva um choque, ao perceber que aquele velho deitado no caixão era a mesma pessoa que lhe pedira dinheiro por uma semana, para comprar comida. Marcio fica aterrorizado com a visão daquele pobre velho, agora limpo, de batina e de olhos fechados, sem dizer uma palavra.

Marcio fica tonto, sua visão começa a ficar distorcida e ele ouve incessantemente a frase que o Padre lhe falou durante uma semana:

- Por favor. Dê me um real. Deus lhe agradecerá em dobro.

- Por favor. Dê me um real. Deus lhe agradecerá em dobro.

- Por favor. Dê me um real. Deus lhe agradecerá em dobro.

Ele não sabe o que fazer, Márcio olha para os lados e vê todas as pessoas a sua volta. Todos olhando para ele, com a fisionomia do velho. Com a barba branca e careca e olhares que pareciam lhe perfurar o coração.

O executivo não sabe o que fazer, e num gesto de desespero sai correndo em direção à rua. Mas não percebe a chegada de um caminhão em alta velocidade que lhe acerta em cheio. Marcio cai no chão ensangüentado, cheio de fraturas no corpo, até que dê seu último suspiro.

Márcio acorda, em um lugar claro, cheio de luzes brancas e amarelas. Uma paz absoluta. Ele vê uma pessoa vindo em sua direção. Uma pessoa vestida de branco. As luzes atrapalham a visão e Marcio não consegue reconhecer quem é. Ao tocar na mão da pessoa, Marcio percebe as rugas, e ao olhar para cima vê o rosto do velho, com um semblante triste no rosto.

- Infelizmente, meu irmão, você não conseguiu salvar sua alma.

- Como assim? Indaga Márcio

- Deus havia lhe dado à chance de lhe salvar. Mandou-me interferir em sua vida para que deixasse de ser egoísta. Mas agora é muito tarde.

- Mas o que vai acontecer comigo?

Antes mesmo de Marcio terminar sua pergunta, dezenas de mãos negras, todas deformadas e queimadas surgem do solo. Todas elas puxando a perna de Marcio. Para não deixar ele escapar, as mãos em decomposição cravavam suas unhas na carne de Marcio. Ele estava sendo puxado para o inferno, onde seria torturado, queimado e ficaria apodrecendo pelo resto de sua vida. Marcio tenta as últimas palavras para que o velho lhe ajudasse, mas a resposta é a confirmação de sua sentença de morte eterna.

- Desculpe, senhor... mas eu não tenho um real....

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Adormecido


Vou começar dizendo que não sou muito supersticioso. Eu sempre fui uma pessoa muito idependente em relação a isso tudo, e  sempre considerei só como historinhas. Mas algo ocorreu que é um pouco difícil de explicar.

Meu irmão Bill nunca foi a pessoa mais normal do mundo. Ele agioa meio estranho  as vezes e tomava remédios desde pequeno para controlar a esquizofrenia dele. As vezes falava coisas estranhas, via coisas estranhas e e tudo mais. Não estou dizendo que ele era idiota, pelo contrário, é um ótimo moleque,  mas ele também era obcecado com essas coisas de meditação e sonhos lúcidos. Nos últimos 11 anos ele tem mantido relatos sobre as experiências. O que vão ler a seguir, é o último registro desse relato. Mantive as datas fora, mas não editei nada do registro.

"Nos últimos cinco anos, tenho praticado sonho lúcido, e tenho ficado bom nisso. Se não está ciente do que  se trata, sonho lúcido é uma prática meditativa que lhe permite ter controle do  seu sono. Essa parte não é muito importante. A parte que interessa é a projeção astral. Não é controlar os sonhos, é sair do corpo e viajar sem limite de tempo fora dele, voltando quando bem entender, e tudo mais. A  única diferença entre projeção e sonho lúcido é que na projeção  você pode ferrar as coisas de verdade se não tomar cuidado. Se você se projetar para longe demais do seu  corpo e não conseguir voltar, coisas horríves podem acontecer, desde entrar em coma até...
Quando se projeta, tudo se intensifica, cheiros, sensações, sentimentos, visão, tudo, tudo se intensifica. Eu consigo praticar durante o dia, e geralmente em um momento de felicidade e tranquilidade, quando conseguia em concentrar e me sentia confiante. O mais longe que consegui chegar foi a 5 metros do meu corpo. É bem divertido, você pode sentirseu corpo flutuar e tudo ganah um outro aspecto.  Nunca praticava muito durante a noite, mas um dia fiquei sem tempo durante a manhãe  resolvi praticar a noite mesmo. Então vi algo terrível, vi e vivi, na verdade, não consigo me esquecer, e dói ao me lembrar, esses dois dias que se passaram depois do ocorrido tenho evitado dormir, mas acho que não aguento mais.

Na noite em que tentei (e infelizmente consegui) eu  estava terrivelmente deprimido e mal,  sentei na cadeira do computador e comecei a meditar. Demorei mas do que o  de  costume, e após uns quarenta e cinco minutos, comecei a sentir meu corpo ficar mais leve, minha mente flutuar e meus problemas sumirem. Me senti em outro estado mental, me afastei de meu corpo e pude me ver sentado na cadeira, fui até minha janela e olhei para o meu quarto, olhei para fora e vi a chuva que caia, senti-me muito livre e decidi ir mais longe.   Eu nunca tinha saído do quarto, mas nessa noite resolvi sair pela janela. Quanto mais você se distancia, mais controle você perde dos movimentos. É como realmente se separar de sí mesmo.

Dependendo da pessoa que está se projetando, o tempo pode  passar rápido, ou devagar. Devido a minha falta de experiência, o tempo passava significativamente rápido para mim. Como se fosse um relógio acelerado.

Eu parecia muito pacífico dormindo. A essa altura da noite, todas as luzes da minha casa estavam apagadas. Foi aí que aconteceu. Quando virei meu rosto para dentro do meu quarto outra vez, vi um homem alto  dentro do meu quarto. Eu não o reconheci,  mas ele se  moveu lentamente e ficou parado na frente do meu corpo. Era velho e enrrugado,  alto demais para não ser desengonçado, velho demais para manter aquela postura. Tinha cabelo branco até a nuca e  estava de preto da cabeça aos pés. Ficou parado e meu cachorrocomeçou a ganir, colocou  o rabo entre as pernas e se urinou, saindo devagar do quarto. Ele só podia ter invadido pela janela sem que ninguém percebesse ou algo assim, meu pai ou meu irmão teriam notado. Bem, obviamente não era um ladrão qualquer ou algo assim, até meu cachorro notou isso. Me perguntei quem seria, como ele entrou no quarto, se podia me ver, o que queria, e todos esses pensamentos bloquearam meus movimentos. Eu  deveria ter voltado ao meu corpo, mas  não consegui, sequer involuntariamente. Só pude ficar ali, flutuando e olhando ele.
Horas se passaram e ele não movia nenhum músculo,  e quando o dia ia amanhecendo, meu irmão entrou no quarto.

Ignorou totalmente a presença do homem estranho e passou por trás da minha cadeira até meu armário, pegou alguma coisa e passou pro mim de novo. Parou do lado do homem sem vê-lo, e me deu um tapa na cara. Um bem forte. Eu não voltei pro corpo. Então deu outro, bem mais forte. Ficou parado me olhando e logo depois  saiu do quarto, como se não houvesse nada de errado. Porque meu irmão não viu ele. Porque meu cachorro viu ele. Porque eu não consigo voltar para meu corpo. Que. Porra. Tá. Acontecendo.

Desisti de me mover. É como estar paralisado por alguma droga, e flutuando aqui, não é tão bom assim, é enlouquecedor ficar parado tanto tempo. Quero   gritar mas não consigo mover a boca. São seis horas da manhã, e a chuva começa a parar, não sei o que fazer a  não ser esperar alguma coisa. O homem ainda está lá, olhando meu corpo.  De súbito, todos os sons cessam. Não ouço nada, não sinto nada, nada de nada. O homem então move o tronco e o pescoço, se vira aos poucos e olha diretamente em meus olhos. Sua cara é branca e seus olhos são  fundos e negros, e parecem sugar a luz ao redor. Seu rosto é coberto de cicatrizes e ele abri um sorriso lento para mim. Não é feliz, nem assustador, é só um sorriso cordial. Ele deve ter uns  oitenta dentes e sua boca e grande demais pra ser humana. Ele sorri mais e mais e coloca um dedo na frente da boca, fazendo um "ssshhh". Lentamente ele andou e saiu do meu quarto, passando pela minha  porta ele abaixou quase metade de sua estranha envergadura e seguiu pelo corredor na curva até sumir de vista.

Fui  jogado bruscamente de volta ao meu corpo e pareci receber uma imensa carga de adrenalina e fiquei ofegante por  uns 6 minutos até me recuperar. Saí correndo do meu quarto atrás dele mas não vi nada. Voltei e quando estava começando a construir provas para mim mesmo de que havia  sido somente um sonho, pisei em algo molhado, e vi que era a urina do meu cachorro, que estava encolhido num canto, ganindo baixinho.

Olhei para cima da minha escrivaninha e vi um papel dobrado. Relutei muito em abrir, mas acabei por fazê-lo, e demorei pra entender a letra, que parecia ter sido escrita pela mão esquerda de um destro. Dizia: "Estará comigo logo logo, as visões do inferno nunca deixão seus espectadores." Não posso contar isso a ninguém. Acho que finalmente está tudo desmoronando. Meu deus. Tem marcas de pé no meu carpete. Dois pés enormes, de frente para minha cadeira do computador."


Essa é a última página do registro. É a última página e eu não sei o que ele fez a respeito disso. Não sei nada sobre sonho lúcido ou projeção astral. Meu irmão Bill morreu quatro dias depois de escrever isso. Morreu enquanto dormia pesadamente. Ele tinha dezoito anos, nunca bebeu nem fumou, e nunca  teve nenhum problema de saúde além dos mentais. Sonhei  com ele noite passada, ele pediu para que eu lesse seu diário.  Me prometeu voltar mais vezes. Mas ele não se parece muito com ele mesmo. Não tenho certeza se quero que ele volte.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A casa sem Fim


Deixe-me começar dizendo que Peter Terry era viciado em heroína. Nós éramos amigos na faculdade e continuamos sendo após eu ter me formado. Note que eu disse "eu". Ele largou depois de 2 anos mal feitos. Depois que eu me mudei do dormitório para um pequeno apartamento, não via Peter com muita frequência. Nós costumávamos conversar online as vezes (AIM era o rei na época pré-facebook). Houve um tempo que ele não ficou online por cinco semanas seguidas. Eu não estava preocupado. Ele era um notável viciado em cocaína e drogas em geral, então eu assumi que ele apenas parou de se importar. Mas então, uma noite, eu o vi entrando. Antes que eu pudesse começar uma conversa, ele me mandou uma mensagem.
"David, cara, nós precisamos conversar."
Foi quando ele me disse sobre a Casa sem Fim. Ela tinha esse nome pois ninguém nunca alcançou a saída final. As regras eram bem simples e clichês: chegue na saída final e você ganha 500 dólares, nove cômodos no total. A casa estava localizada fora da cidade, aproximadamente 7km da minha casa. Aparentemente ele tentou e falhou. Ele era viciado em heroína e sabe lá em mais o que, então eu imaginei que as drogas tinham feito ele se cagar todo por causa de um fantasma de papel ou algo assim. Ele me disse que seria demais pra qualquer um. Que não era normal. Eu não acreditei nele. Por que eu deveria? Eu disse a ele que iria checar isso na outra noite, e não importava o quanto ele tentasse me fazer não ir, 500 dólares soava bom demais pra ser verdade, eu precisava tentar. Fui na noite seguinte. Isso foi o que aconteceu.

Quando eu cheguei, imediatamente notei algo estranho sobre a casa. Você já viu ou leu algo que não deveria te assustar, mas por alguma razão te gelava a espinha? Eu andei através da construção e o o sentimento de mal estar apenas aumentou quando eu abri a porta da frente.
Meu coração desacelerou e soltei um suspiro aliviado assim que entrei. O cômodo parecia como uma entrada de um hotel normal decorada para o Halloween. Um sinal foi colocado no lugar onde deveria ter um funcionário. Se lia "Quarto 1 por aqui. Mais oito a seguir. Alcance o final e você vence!" Eu ri e fui para a primeira porta.
A primeira área era quase cômica. A decoração lembrava o corredor de Halloween de um K-Mart, cheia de fantasmas de lençol e zumbis robóticos que soltavam um grunhido estático quando você passava. No outro lado tinha uma saída, a única porta além da qual eu entrei. Passei através das falsas teias de aranha e fui para o segundo quarto.
Fui recebido por uma névoa assim que abri a porta do segundo quarto. O quarto definitivamente apostou alto nos termos de tecnologia. Não havia apenas uma máquina de fumaça, mas morcegos pendurados pelo teto e girando em círculos. Assustador. Eles pareciam ter em algum lugar da sala, uma trilha sonora em loop de Halloween que qualquer um encontra em uma loja de R$1,99. Eu não vi um rádio, mas imaginei que eles tenham usado um sistema de PA. Eu pisei em cima de alguns ratos de brinquedo com rodinhas e andei com o peito inchado para a próxima área. Eu alcancei a maçaneta e meu coração parou. Eu não queria abrir essa porta. O sentimento de medo bateu tão forte que eu mal conseguia pensar. A lógica voltou depois de alguns momentos aterrorizantes, e eu abri a porta e entrei no próximo cômodo.
No quarto 3 foi quando as coisas começaram a mudar.
A primeira vista, parecia como um quarto normal. Havia uma cadeira no meio do quarto com piso de madeira. Uma lâmpada no canto fazia o péssimo trabalho de iluminar a área, e lançava algumas sombras sobre o chão e as paredes. Esse era o problema. Sombras. Plural. Com a exceção da cadeira, havia outras. Eu mal tinha entrado e já estava apavorado. Foi naquele momento que eu soube que algo não estava certo. Eu nem sequer pensava quando automaticamente tentei abrir a porta de qual eu vim. Estava trancada pelo outro lado.
Isso me deixou atormentado. Alguém estava trancando as portas conforme eu progredia? Não havia como. Eu teria ouvido. Seria uma trava mecânica que fechava automaticamente? Talvez. Mas eu estava muito assustado pra pensar. Eu me voltei para o quarto e as sombras tinham sumido. A sombra da cadeira permaneceu, mas as outras se foram. Comecei a andar lentamente. Eu costumava alucinar quando era criança, então eu conclui que as sombras eram um produto da minha imaginação. Comecei a me sentir melhor assim que fui para o meio da sala. Olhei para baixo enquanto andava, e foi aí que eu vi. A minha sombra não estava lá. Eu não tive tempo para gritar. Corri o mais rápido que pude para a outra porta e me atirei sem pensar no próximo quarto.
O quarto cômodo foi possivelmente o mais perturbador. Assim que eu fechei a porta, toda a luz pareceu ser sugada para fora e colocada no quarto anterior. Eu fiquei ali, rodeado pela escuridão, e não conseguia me mexer. Não tenho medo do escuro, e nunca tive, mas eu estava absolutamente aterrorizado. Toda a minha visão tinha me deixado. Eu ergui minha mão na frente do meu rosto e se eu não soubesse que tinha feito isso, nunca seria capaz de contar. Não conseguia ouvir nada. Estava um silêncio mortal. Quando você está em uma sala à prova de som, ainda é capaz de se ouvir respirar. Você consegue ouvir a si mesmo estar vivo. Eu não podia. Comecei a tropeçar depois de alguns momentos, a única coisa que eu podia sentir era meu coração batendo rapidamente. Não havia nenhuma porta à vista. Eu não tinha nem sequer certeza se havia uma porta mesmo. O silêncio foi quebrado por um zumbido baixo.
Senti algo atrás de mim. Vire-me bruscamente mas mal conseguia ver meu nariz. Mas eu sabia que era lá. Independentemente do quão escuro estava, eu sabia que tinha algo lá. O zumbido ficou mais alto, mais perto. Parecia me cercar, mas eu sabia que o que quer que estivesse causando o barulho, estava na minha frente, se aproximando. Dei um passo para trás, eu nunca tinha sentido esse tipo de medo. Eu realmente não consigo descrever o verdadeiro medo. Não estava nem com medo de morrer, mas sim do modo que isso ia acontecer. Tinha medo do que a coisa reservara para mim. Então as luzes piscaram por menos de um segundo e eu vi. Nada. Eu não vi nada e eu sei que eu não vi nada lá. O quarto estava novamente mergulhado na escuridão, e o zumbido era agora um guincho selvagem. Eu gritei em protesto, não conseguiria ouvir o barulho por mais um maldito minuto. Eu corri para trás, longe do barulho, e comecei a procurar pela maçaneta. Me virei e cai dentro do quarto 5.
Antes que eu descreva o quarto 5, você deve entender algo. Eu não sou um viciado. Nunca tive história de abuso de drogas ou qualquer tipo de psicoses além das alucinações na minha infância que eu já mencionei, e elas eram apenas quando eu estava realmente cansado ou tinha acabado de acordar. Eu entrei na Casa sem Fim limpo.
Depois de cair do quarto anterior, minha visão do quinto quarto foi de costas, olhando pro teto. O que eu vi não me assustou, apenas me surpreendeu. Árvores tinha crescido no quarto e se erguiam acima da minha cabeça. O teto desse quarto era mais alto que os outros, o que me fez pensar que eu estava no centro da casa. Me levantei do chão, me limpei e olhei ao redor. Era definitivamente o maior quarto de todos. Eu sequer conseguia ver a porta de onde eu estava, os vários arbustos e árvores devem ter bloqueado a minha linha de visão da saída. Nesse momento eu notei que os quartos estavam ficando mais assustadores, mas esse era um paraíso em comparação ao último. Também assumi que o que estava no quarto quatro ficou lá. Eu estava incrivelmente errado.
Conforme eu andava, comecei a ouvir o que se poderia ouvir em uma floresta, o barulho dos insetos se movendo e dos pássaros voando pareciam ser as minhas únicas companhias nesse quarto. Isso foi o que mais me incomodou. Eu podia ouvir os insetos e os outros animais, mas não conseguia vê-los. Comecei a me perguntar quão grande essa casa era. De fora, quando eu caminhei até ela, parecia como uma casa normal. Era definitivamente na maior parte da casa, já que tinha quase uma floresta inteira. A abóbada cobria minha visão do teto, mas eu assumi que ele ainda estava lá, por mais alto que fosse. Eu também não via nenhuma parede. A única maneira que eu sabia que ainda estava dentro da casa era por causa do chão compatível com o dos outros quartos, pisos escuros de madeira. Continuei andando na esperança que a próxima árvore que eu passasse revelaria a porta. Depois de alguns momento de caminhada, senti um mosquito no meu braço. O espantei e continuei. Um segundo depois, senti cerca de dez mais deles em diferentes lugares da minha pele. Senti eles rastejarem para cima e para baixo nos meus braços e pernas, e algum deles foram para o meu rosto. Eu me agitava freneticamente para espantá-los mas eles continuavam rastejando. Eu olhei para baixo e soltei um grito abafado, mais um ganido, para ser honesto. Eu não vi um único inseto. Nenhum inseto estava em mim, mas eu conseguia senti-los. Eu ouvia eles voando pelo meu rosto e picando a minha pele, mas não conseguia ver um único inseto. Me joguei no chão e comecei a rolar descontroladamente. Eu estava desesperado. Eu odiava insetos, especialmente os que eu não conseguia ver ou tocar. Mas eles conseguiam me tocar, e estavam por toda parte.
Eu comecei a rastejar. Não tinha ideia para onde estava indo, a entrada não estava a vista, e eu ainda não tinha visto a saída. Então eu apenas rastejei, minha pele se contorcendo com a presença desses insetos fantasmas. Depois do que pareceu horas, eu achei a porta. Agarrei a árvore mais próxima e me apoiei nela, eu dava tapas nos meus braços e pernas, sem sucesso. Tentei correr mas não conseguia, meu corpo estava exausto de rastejar e lidar com o que quer que estivesse no meu corpo. Eu dei alguns passos vacilantes até a porta, me segurando em cada árvore para me apoiar. Estava a poucos passos da porta quando eu ouvi. O zumbido baixo de antes. Estava vindo do próximo quarto, e era mais profundo. Eu podia quase senti-lo dentro do meu corpo, como quando você está do lado de um amplificador em um show. O sensação dos insetos em mim diminuiu quando o zumbido ficou mais alto. Assim que eu coloquei a mão na maçaneta, os insetos se foram completamente, mas eu não conseguia girar a maçaneta. Eu sabia que se eu soltasse, os insetos voltariam, e eu não voltaria para o cômodo quatro. Eu apenas fiquei ali, minha cabeça pressionada contra a porta marcada 6, minha mão trêmula segurando a maçaneta. O zumbido era tão alto que eu não conseguia nem me ouvir fingir pensar. Eu não podia fazer nada além de prosseguir. O quarto 6 era o próximo, e ele era o inferno.
Fechei a porta atrás de mim, meus olhos fechados e meus ouvidos zunindo. O zumbido me rodeava. Assim que a porta fechou, o zumbido se foi. Abri meus olhos e a porta que eu fechei sumira. Era apenas uma parede agora. Olhei em volta em choque. O quarto era idêntico ao terceiro, a mesma cadeira e lâmpada, mas com a quantidade de sombras corretas dessa vez. A única real diferença é que a porta de saída, e a que eu vim, tinham sumido. Como eu disse antes, eu não tinha problemas anteriores nos termos de instabilidade mental, mas no momento eu sentia como se estivesse louco. Eu não gritei. Não fiz um som. No começo eu arranhei suavemente. A parede era resistente, mas eu sabia que a porta estava lá, em algum lugar. Eu apenas sabia que estava. Arranhei onde a maçaneta estava. Arranhei a parede freneticamente com ambas as mãos, minhas unhas começaram a ser lixadas pela parede. Cai silenciosamente de joelho, o único som no quarto era o incessante arranhar contra a parede. Eu sabia que estava lá. A porta estava lá, eu sabia que estava apenas lá, sabia que se eu pudesse passar pela parede-
"Você está bem?"
Pulei do chão e me virei rapidamente. Me encostei contra a parede atrás de mim e vi o que falou comigo, e até hoje eu me arrependo de ter me virado.
A garotinha usava um vestido branco que descia até seus tornozelos. Ela tinha longos cabelos loiros que desciam até o meio das suas costas, pele branca e olhos azuis. Ela era a coisa mais assustadora que eu já tinha visto, e eu sei que nada na vida será tão angustiante como o que eu vi nela. Enquanto eu a olhava, eu via a jovem menina, mas também via algo mais. Onde ela estava eu vi o que parecia com um corpo de um homem maior do que o normal e coberto de pelos. Ele estava nu da cabeça ao dedão do pé, mas sua cabeça não era humana, e seus pés eram cascos. Não era o diabo, mas naquele momento poderia muito bem ter sido. Sua cabeça era a cabeça de um carneiro e o focinho de um lobo. Era horrível, e era como a menininha a minha frente. Eles tinham a mesma forma. Eu não consigo realmente descrever, mas eu via os dois ao mesmo tempo. Eles compartilhavam o mesmo lugar do quarto, mas era como olhar para duas dimensões separadas. Quando eu olhava a menina, eu via a coisa, e quando eu olhava a coisa, eu via a menina. Eu não conseguia falar. Eu mal conseguia ver. Minha mente estava se revoltando contra o que eu tentava processar. Eu já tive medo antes na minha vida, e eu nunca tinha estado mais assutado do que quando fiquei preso no quarto 4, mas isso foi antes do sexto. Eu apenas fiquei ali, olhando para o que quer que fosse que falou comigo. Não havia saída. Eu estava preso lá com aquilo. E então ela falou de novo.
"David, você deveria ter ouvido"
Quando aquilo falou, eu ouvi palavras da menina, mas a outra coisa falou atrás da minha mente numa voz que eu não tentarei descrever. Não havia nenhum outro som. A voz apenas continuava repetindo a frase de novo e de novo na minha mente, e eu concordei. Eu não sabia o que fazer. Estava ficando louco e ainda assim eu não conseguia tirar os olhos do que estava na minha frente. Cai no chão. Pensei que tinha desmaiado, mas o quarto não deixaria isso acontecer. Eu apenas queria que isso terminasse. Eu estava de lado, meus olhos bem apertos e a coisa olhando pra mim. No chão na minha frente estava correndo um dos ratos de brinquedo do segundo quarto. A casa estava brincando comigo. Mas por alguma razão, ver esse rato fez a minha mente voltar de onde quer que ela estivesse, e olhar ao redor do quarto. Eu sairia de lá. Estava determinado a sair daquela casa e nunca mais pensar sobre ela novamente. Eu sabia que esse quarto era o inferno e não estava pronto para ficar lá. No começo apenas meus olhos se moviam. Eu procurava nas paredes por qualquer tipo de abertura. O quarto não era muito grande, então não demorou muito para que eu checasse tudo. O demônio continuava zombando de mim, a voz cada vez mais alta como a coisa parada lá. Coloquei minha mão no chão e fiquei de quatro, e voltei a explorar a parede atrás de mim. Então eu vi algo que eu não podia acreditar. A coisa estava agora diretamente nas minhas costas, sussurrando como eu não deveria ter vindo. Eu senti sua respiração na minha nuca, mas me recusei a me virar. Um grande retângulo foi riscado na madeira, com um pequeno entalhe no meio dele. E bem em frente aos meus olhos eu vi um 7 que eu tinha inconscientemente feito na parede. Eu sabia o que era. Quarto 7 estava bem onde o quarto 5 estava a momentos atrás.
Eu não sabia como eu tinha feito aquilo, talvez tenha sido apenas o meu estado no momento, mas eu tinha criado a porta. Eu sabia que tinha. Na minha loucura eu tinha riscado na parede o que eu mais precisava, uma saída para o próximo quarto. O quarto 7 estava perto. Eu sabia que o demônio estava bem atrás de mim, mas por alguma razão, ele não conseguia me tocar. Fechei meus olhos e coloquei ambas as mãos no grande 7 na minha frente. E empurrei. Empurrei o mais forte que pude. O demônio agora gritava nos meus ouvidos. Ele e dizia que eu nunca iria embora. Me dizia que esse era o fim, mas que eu não iria morrer, eu iria ficar lá no quarto 6 com ele. Eu não iria. Empurrei e gritei com todo o meu fôlego. Eu sabia que alguma hora eu iria atravessar a parede. Cerrei meus olhos e gritei, e então o demônio se foi. Eu fui deixado no silêncio. Me virei lentamente e fui saudado com o quarto estando como estava quando eu entrei, apenas uma cadeira e uma lâmpada. Eu não podia acreditar nisso, mas não tive tempo de me habituar. Me virei para o 7 e pulei levemente para trás. O que eu vi foi uma porta. Não a que eu tinha riscado lá, mas uma porta normal com um grande 7 nela. Todo o meu corpo tremia. Me levou um tempo para girar a maçaneta. Eu apenas fiquei lá, parado por um tempo, encarando a porta. Eu não podia ficar no quarto 6, não podia. Mas se isso foi apenas o quarto 6, não conseguia imaginar o que me aguardava no 7. Devo ter ficado lá por uma hora, apenas olhando para o 7. Finalmente, respirei fundo e girei a maçaneta, abrindo a porta para o quarto 7.
Cambaleei através da porta mentalmente exausto e fisicamente fraco. A porta atrás de mim se fechou, e eu me toquei de onde estava. Eu estava fora. Não fora como no quarto 5, eu estava realmente lá fora. Meus olhos ardiam. Eu queria chorar. Cai de joelhos e tentei, mas não consegui. Eu estava finalmente fora daquele inferno. Nem sequer me importava com o prêmio que foi prometido. Me virei e vi que porta que eu tinha acabado de atravessar era a entrada. Andei até o meu carro e dirigi para casa, pensando em o quão bom seria tomar um banho.
Assim que cheguei em casa, me senti desconfortável. A alegria de deixar a Casa Sem Fim tinha sumido, e um temor crescia lentamente em meu estômago. Parei de pensar nisso e fiz meu caminho para a porta da frente. Entrei e imediatamente subi para o meu quarto. Eu entrei lá e na minha cama estava meu gato Baskerville. Ele foi a primeira coisa viva que eu vi aquela noite, e fui fazer carinho nele. Ele sibilou e bateu na minha mão. Recuei em choque, ele nunca tinha agido assim. Eu pensei "tanto faz, ele é um gato velho". Fui para o banho e me aprontei para o que eu esperava ser uma noite de insônia.
Depois do meu banho, fui cozinhar algo. Desci as escadas e me virei para a sala de estar, e vi o que ficaria para sempre gravado em minha mente. Meus pais estavam deitados no chão, nus e cobertos de sangue. Foram mutilado ao ponto de estarem quase identificáveis. Seus membros foram removidos e colocados do lado dos seus corpos, e suas cabeças em seus peitos, olhando para mim. A pior parte eram suas expressões. Eles sorriam, como se estivessem felizes em me ver. Vomitei e comecei a chorar lá mesmo. Eu não sabia o que tinha acontecido, eles nem sequer moravam comigo. Eu estava confuso. E então eu vi. Uma porta que nunca esteve lá antes. Uma porta com um grande 8 riscado com sangue nela.
Eu continuava na casa. Estava na minha sala de estar, mas ainda assim, no quarto 7. O rosto dos meus pais sorriram mais assim que eu percebi isso. Eles não eram meus pais, não podiam ser. Mas pareciam exatamente como eles. A porta marcada com um 8 estava do outro lado, depois dos corpos mutilados na minha frente. Eu sabia que tinha que continuar, mas naquele momento eu desisti. Os rostos sorridentes acabaram comigo, me seguravam lá onde eu estava. Vomitei novamente e quase entrei em colapso. E então, o zumbido voltou. Estava mais alto do que nunca, enchia a casa e tremia as paredes. O zumbido me obrigou a andar. Comecei a andar lentamente, indo em direção a porta e aos corpos. Eu mal conseguia ficar em pé, ainda mais andar, e quanto mais perto eu ia dos meus pais, mais perto do suicídio eu estava. As paredes agora tremiam tanto que parecia que desmoronariam, mas ainda assim os rostos sorriam para mim. Cada vez que eu me movia, os olhos me seguiam. Agora eu estava entre os dois corpos, a alguns metros da porta. As mãos desmembradas rastejaram em minha direção, o tempo todo os rostos continuavam a me olhar fixamente. Um novo terror tomou conta de mim e eu andei mais rápido. Eu não queria ouvir eles falarem. Não queria que as vozes fossem iguais a dos meus pais. Eles começaram a abrir suas bocas, e agora as mãos estavam a centímetros dos meus pés. Em um movimento desesperado, corri até a porta, a abri, e bati com ela atrás de mim. Quarto 8.
Eu estava farto. Depois do que acabara de acontecer, eu sabia que não tinha mais nada que essa porra de casa pudesse ter que eu não pudesse sobreviver. Não havia nada além do fogo do inferno que eu não estava preparado. Infelizmente eu subestimei as capacidades da Casa Sem Fim. Infelizmente, as coisas ficaram mais perturbadoras, mais terríveis e mais indescritíveis no quarto 8.
Eu continuo tendo dificuldade me acreditar no que eu vi na sala 8. De novo, o quarto era uma cópia do quarto 6 e 4, mas sentado na cadeira normalmente vazia, estava um homem. Depois de alguns segundos de descrença, minha mente finalmente aceitou o fato de que o homem sentado lá era eu. Não alguém que parecia comigo, ele era David Williams. Me aproximei. Eu tinha que dar uma olhada melhor, mesmo tendo certeza disso. Ele olhou para mim e notei lágrimas em seus olhos.
"Por favor.... por favor, não faça isso. Por favor, não me machuque."
"O que?" Eu disse. "Quem é você? Eu não vou te machucar."
"Sim, você vai" Ele soluçava agora. "Você vai me machucar e eu não quero que você faça isso." Ele colocou suas pernas para cima na cadeira e começou a se balançar para frente e para trás. Foi realmente bem patético de olhar, principalmente por ele ser eu, idêntico em todos os sentidos.
"Escute, quem é você?" Eu estava agora apenas a alguns metros do meu doppelganger. Foi a mais estranha experiência que eu tive, estar lá falando comigo mesmo. Eu não estava assustado, mas ficaria logo. "Por que você-?"
"Você vai me machucar, você vai me machucar, se você quer sair você vai me machucar"
"Por que você está falando isso? Apenas se acalme, certo? Vamos tentar entender isso e-" E então eu vi. O David sentado lá estava usando as mesmas roupas que eu, exceto por uma pequena mancha vermelha bordada em sua camisa com um número 9"
"Você vai me machucar, você vai me machucar, não, por favor, você vai me machucar..."
Meus olhos não deixaram o pequeno número no seu peito. Eu sabia exatamente o que era. As primeiras portas foram simples, mas depois elas ficaram mais ambíguas. 7 foi arranhada na parede pelas minhas próprias mãos. 8 foi marcada com o sangue dos meus pais. Mas 9 - esse número era uma pessoa, uma pessoa viva. E o pior, era uma pessoa que parecia exatamente comigo.
"David?" Eu tive que perguntar.
"Sim... você vai me machucar, você vai me machucar..." Ele continuo a soluçar e a se balançar. Ele respondeu ao David. Ele era eu, até a voz. Mas aquele 9. Eu andei por alguns minutos enquanto ele chorava em sua cadeira. O quarto não tinha nenhuma porta, e assim como o 6, a porta da qual eu vim tinha sumido. Por alguma razão, eu sabia que arranhar não me levaria a nenhum lugar dessa vez. Estudei as paredes e o chão em volta da cadeira, abaixando a minha cabeça e vendo se tinha algo embaixo dela. Infelizmente, tinha. Embaixo da cadeira tinha uma faca. Junto com ela tinha uma nota onde se lia: Para David - Da Gerência.
A sensação em meu estômago quando eu li a nota foi algo sinistro. Eu queria vomitar, e a última coisa que eu queria fazer era remover a faca debaixo da cadeira. O outro David continuava a soluçar incontrolavelmente. Minha mente girava em volta de questões sem respostas. Quem colocou isso aqui e como sabiam meu nome? Sem mencionar o fato de que eu estava ajoelhado no chão frio e também estava sentado naquela cadeira, soluçando e pedindo para não ser machucado por mim mesmo. Isso tudo era muito para processar. A casa e a gerência estavam brincando comigo esse tempo todo. Meus pensamentos, por alguma razão, foram para Peter, e se ele chegou tão longe ou não. E se ele chegou, se ele conheceu um Peter Terry soluçando nesta cadeira, se balançando para frente e para trás. Eu expulsei esses pensamentos da minha cabeça, eles não importavam. Eu peguei a faca debaixo da cadeira e imediatamente o outro David se calou.
"David," ele disse na minha voz, "o que você pensa que vai fazer?"
Me levantei do chão e apertei a faca na minha mão.
"Eu vou sair daqui."
David continuava sentado na cadeira, mas estava bem calmo agora. Ele olhou pra mim com um sorriso fraco. Eu não sabia se ele iria rir ou me estrangular. Lentamente ele se levantou da cadeira e ficou de frente para mim. Era estranho. Sua altura e até a maneira que ele estava eram iguais a mim. Eu senti o cabo de borracha da faca na minha mão e apertei ela mais forte. Eu não sabia o que planejava fazer com isso, mas sentia que eu ia precisar dela.
"Agora" sua voz era um pouco mais profunda que a minha. "Eu vou te machucar. Eu vou te machucar e eu vou te manter aqui" Eu não respondi. Eu apenas o ataquei e o segurei no chão. Eu tinha montado nele e olhei para baixo, faca apontada e preparada. Ele olhou para mim apavorado. Era como se eu estivesse olhando para um espelho. E então, o zumbido retornou, baixo e distante, mas ainda assim eu o sentia no meu corpo. David olhou mim e eu olhei para mim mesmo. O zumbido foi ficando mais alto, e eu senti algo dentro de mim se romper. Com apenas um movimento, eu enfiei a faca na marca em seu peito e rasguei. A escuridão inundou o quarto, e eu estava caindo.
A escuridão em volta de mim era diferente de tudo que eu já tinha experimentado até aquele ponto. O Quarto 3 era escuro, mas não chegou nem perto dessa que tinha me engolido completamente. Depois de um tempo, eu não tinha nem mais certeza se continuava caindo. Me sentia leve, coberto pela escuridão. E então, uma tristeza profunda veio até mim. Me senti perdido, deprimido, suicida. A visão dos meus pais entrou na minha mente. Eu sabia que não era real, mas eu tinha visto aquilo, e a mente tem dificuldades em diferenciar o que é real e o que não é. A tristeza só aumentava. Eu estava no quarto 9 pelo que parecia dias. O quarto final. E era exatamente o que isso era, o fim. A Casa Sem Fim tinha um final, e eu tinha alcançado isso. Naquele momento, eu desisti. Eu sabia que eu estaria naquele estado pra sempre, acompanhado por nada além da escuridão. Nem o zumbido estava lá para me manter são. Eu tinha perdido todos os sentidos. Não conseguia sentir eu mesmo. Não conseguia ouvir nada, a visão era inútil aqui, e eu procurei por algum gosto na minha boca e não achei nada. Me senti desencarnado e completamente perdido. Eu sabia onde eu estava. Isso era o inferno. O Quarto 9 era o inferno. E então aconteceu. Uma luz. Uma dessas luzes estereotipadas no fim do túnel. Então eu senti o chão vir até mim, eu estava em pé. Depois de um momento ou dois para reunir meus pensamentos e sentidos, eu andei lentamente em direção a essa luz.
Assim que eu me aproximei da luz, ela tomou forma. Era uma luz saindo da fenda de uma porta, dessa vez sem nenhuma marca. Eu lentamente andei através da porta e me encontrei de volta onde eu comecei, no lobby da Casa Sem Fim. Estava exatamente como eu deixei. Continuava vazia, continuava decorada com enfeites infantis de Halloween. Depois de tudo o que aconteceu aquela noite, eu continuava desconfiado de onde eu estava. Depois de alguns momentos de normalidade, eu olhei em volta tentando achar qualquer coisa diferente. Na mesa estava um envelope branco com o meu nome escrito nele. Muito curioso, mas ainda assim cauteloso, juntei coragem para abrir o envelope. Dentro estava uma carta escrita à mão.
David Williams,
Parabéns! Você chegou ao final da Casa Sem Fim! Por favor, aceite esse prêmio como um símbolo da sua grande conquista.
Da sua eterna,
Gerência
Junto com a carta, tinham cinco notas de 100 dólares.
Eu não conseguia parar de rir. Eu ri pelo que pareceram horas. Eu ri enquanto andava até o carro e ri enquanto dirigia pra casa. Eu ri enquanto estacionava o carro na minha garagem, ri enquanto abria a porta da frente da minha casa e ri quando vi um pequeno 10 gravado na madeira.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lanterna


Enquanto rasteja pela caverna, você pensa consigo mesmo, "Se eu conseguir fazer isso, não vai ser tão ruim". O buraco pelo qual você rasteja é inacreditavelmente pequeno, pequeno o suficiente para seu corpo caber. Se virar não é uma opção. O  vento soprando por trás torna praticamente impossível rastejar de volta. A lanterna é a única coisa que te separa da escuridão total. Ela está quase sem pilha, mas tudo bem,  seu amigo atrás de você tem mais. De acordo com os cálculos, você está na metade do caminho. Seu   amigo é um ávido explorador que ama explorar cavernas, ele definitivamente é confiável, e nada pode sair errado, pode?

"Vai logo, você se  mexe como minha vó" Ele grita.
Então você percebe que o buraco está se tornando cada vez mais e mais apertado. Seu amigo tenta ser engraçado, e te empurra pra frente, sabendo sua falta de experiência.

Você está preso. O buraco é pequeno demais, e mesmo tentando se  esgueirar por lá, e notavelmente impossível. As paredes começam a apertar e respirar começa a ficar complicado. Então você escuta gemidos, gritos e rangidos vindos de trás  de você e de seu amigo.

Fica mais e mais alto.

Seu amigo grita um grito agudo, do tipo que só pode ser gritado quando se sente a morte no seu encalço, e você ouve barulho de ossos sendo remoídos e sangue jorrando conforme ele é puxado para trás e grita em agonia.

Sua lanterna apaga.

domingo, 24 de junho de 2012

Crianças não devem brincar com coisas mortas


"Eu não queria que tivesse acabado assim, na verdade eu era a única que não queria nem que isso tudo começasse. Só estou escrevendo isso para que nunca mais ninguém caia nessa burrada, ou talvez eu só esteja escrevendo porque este é o único motivo que me mantém assim, viva.

Era só uma brincadeira, eu nunca gostei dessas coisas mas "Link" disse que ficaria tudo bem, claro, o nome dele na verdade não é realmente Link, mas é o nick que ele usa em todas as redes sociais então eu  sempre o chamara assim. Eu acabei aceitando fazer o que ele pediu, afinal de contas o que mais poderia acontecer?
Ele me passou um site, a princípio eu achei incrivelmente idiota o fato de um jogo como a tabua Ouija online, as pessoas precisam mesmo achar mais o que fazer.
Era como um jogo em rede, na minha tela via-se uma mesa com a tabua no centro e mais duas cadeiras com respectivas duas sombras sentadas nas mesmas, sorri ao ver "link" sobre a cabeça de uma das sombras, o relógio marcava 00:00, meu celular tocou e eu atendi em seguida, era link.

- Não é divertido Marry?
Eu ri baixinho da ideia dele de diversão.

- Espero que não seja mais uma de suas pegadinhas, meus pais estão dormindo. você sabe.
Link riu:
- Não é Marry eu juro, o usuário D64 pediu para entrar essa hora, já jogamos juntos de tarde.

Eu corri os olhos no meu monitor, olhei de relance para a sombra sentada ao lado esquerdo da tela "D64 é?" pensei comigo, o nick era muito estranho.

- Vamos jogar ou não?
Link perguntou impaciente, então eu apertei Start.
Movi meu cursor até o centro do ponteiro da tabua e este mexeu sozinho junto com meu mouse físico, eu suspirei de susto e link riu:

- É muito legal né?
Eu revirei os olhos, já devia saber, a caixa de dialogo pedia o microfone, eu coloquei os fones e puxei o microfone para perto da boca.

- Alguém ai?

Perguntei meio vacilante com o tom da minha voz, não queria acordar meus pais de jeito nenhum.

- Eu estou Marry.
Link disse visivelmente segurando o riso, se aquilo fosse algum tipo de brincadeira ele ia se arrepender amargamente.

- Todos presentes?
uma voz masculina pergunto, julgava ser de D64.

- Sim.

Link e eu respondemos, em seguida meu mouse tremeu uma vez mais. uma caixa de dialogo no jogo se abriu com algumas frases e a instrução de lê-las em voz alta
" Hoje abrimos a janela do mundo vivo, arrancamos o véu que separa céu e inferno, convidamos a vir conversar qualquer que seja, sente-se e apresente-se."
me senti meio estranha lendo aquilo, Link não conseguia segurar o riso, o mouse e o ponteiro se moveram para "hello"

- Quem está ai?
Link perguntou, o mouse se moveu formando a palavra Jess.

- Você é homem ou mulher jess?
Link novamente perguntou, o mouse mostrou "M" como resposta, depois disso segui-se uma série de perguntas idiotas intercaladas por Link e eu, D64 permanecia em um perturbador silencio.

- Está é a ultima pergunta Link, já são 3 da manhã.
Eu disse já entediada de tudo aquilo, finalmente D64 resolveu perguntar algo:

- como você morreu Jess?

o cursor moveu B.R.U.X.A

- Quando você morreu Jess?

o cursor mostrou 1.8.0.4

Eu estava ficando assustada, D64 não parava de fazer perguntas e eu realmente queria sair do jogo mas a pagina não respondia ao comando.

- Que fizeram com você Jess?

B.R.U.X.A

- Bruxa o que Jess?
Desta vez foi Link que perguntou
B.R.U.X.A.R.I.A

- Como fizeram Jess?
D64 perguntou sombriamente

L.E.V.A.R.A.M .M.E.U.S O.L.H.O.S E.M.B.O.R.A E O R.E.S.T.O O .R.E.S.T.O

- O que você quer Jess?
Link perguntou vacilante.

E.U N.A.O Q.U.E.R.O M.A.I.S F.I.C.A.R S.O.Z.I.N.H.A

- LINK!
Eu gritei mas a página havia fechado, eu peguei o celular que nem havíamos desligado

- Link responde!! está me assustando!
Eu chamei mas não houve resposta, só um silencio perturbador, olhei o visor do celular a ligação estava normal, tinha sinal e os segundos contavam.

- Link! isso não tem graça!eu juro que eu vou...
Ouvi um grito agonizante com a voz de Link, entrei em desespero.

- Link! pelo amor de Deus! pare com isso você está...

- Crianças...

- O que?
A voz do outro lado parecia a de Link mas havia a de mais alguém, elas soavam em uníssono.

- Crianças...

- Crianças o que?

- Crianças não devem brincar com coisas mortas.

o Celular fez um barulho estridente e insuportável, parecia um grito muito fino e parou de repente como se aquilo que gritava tivesse arrebentado as cordas vocais.

- Link?
eu sentia o choro na garganta, o celular desligou e eu o deixei cair no tapete do quarto, sem pensar eu abri o bloco de notas no meu computador e comecei a digitar isso, estou ouvindo os passos, ela esta vindo... parece com algo se arrastando, meu coração está saindo pela boca, ela está aqui, eu posso sentir está esperando eu terminar de digitar para finalmente acabar com tudo, eu não consigo parar de tremer, sinto muito, acho que isso é um adeus a todos. só espero que alguém ache este texto, ai pelo menos tudo vai ter valido apena."
-

Depois disso a policia de diferentes estados encontrou os corpos de um casal de adolescentes mortos em seus quartos, ambos tinham os olhos arrancados e na parede sul de cada quarto estava escrito em sangue "crianças não devem brincar com coisas mortas"