quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Hora de dormir II (pt. 3)


Depois de escrever sobre minhas variadas e horríveis experiências que eu tive quando era um menino de 8 anos de idade, muitos tem me encorajado a falar sobre o que aconteceu depois. Eu tenho estado hesitante de fazer isso pois me sinto inquieto desde que quebrei o silêncio. Dormir não me tem sido fácil nessas últimas noites. Meu ceticismo, entretanto, continua resistente, e então, vou contar o que eu experimentei no outro quarto.

Esse não será tão longo como o outro, pois o acontecido só durou alguns dias mas o que foi o suficiente para mim.

Se você se lembra, depois que o visitante não deixado me deixou em paz, eu me mudei para outro quarto um ano depois. Esse quarto era muito maior do que o antigo e tinha um clima ameno de boas vidas na atmosfera. Alguns lugares dão sensações ruins. O quarto de antes me deixava nauseante, mas esse não.

Felizmente eu ganhei uma cama normal, o beliche tinha sido destruído e jogado fora (um ótimo começo, posso adicionar). Eu amava meu novo quarto, eu aproveitava o grande espaço para meus brinquedos, eu estava feliz que o lugar era espaçoso o suficiente para que meus amigos pudessem passar a noite, mas no mais eu só estava aliviado de estar fora daquele horrível, agourado lugar da casa.

Na primeira noite eu dormi com prazer, coisa que eu não tinha feito a muito tempo. Claro que eu tinha movido minha cama várias vezes para longe da parede. Eu disse para minha mãe e para meus amigos que eu gostava de usar os cantos entre a cama e parede como esconderijos quando estava brincando.

Eu acordei nos dias seguintes me sentindo relaxado e renovado. Enquanto eu ficava deitado lá vendo algum dos meus desenhos animados favoritos numa pequena televisão portátil, eu notei algo estranho.  Uma antiga poltrona marrom escura que tinha sempre estado no quarto, estava no pé da minha cama, grande e iminente. 

Ela estava usada e desgastada, tínhamos ganhado ela como parte de um conjunto de um primo distante, mas 
ela já tinha sido usada muitas vezes até então. A cadeira em si não era incomum, mas o que me perturbou é que eu poderia jurar que quando eu tinha ido dormir a cadeira estava de costas para a cama, e não estava de frente. Assumi que minha mãe ou meu pai tinha movido-a enquanto eu dormia, provavelmente procurando lá algo que tinham esquecido quando nós trocamos de quarto.

A segunda noite não foi tranquila. Era por volta das 23h e eu podia ouvir a televisão de meus pais do outro lado da casa. O quarto era mais largo no escuro, a única iluminação era apenas uma tonalidade a deriva das luzes da rua pela janela. Eu fiquei ali deitado, feliz. Feliz, até eu ouvir algo bem baixinho, ainda assim, inconfundível.

De primeira eu achei que era o som da minha própria respiração enquanto eu estava descansando, mas então eu parei por um momento, e o som quase inaudível de mais alguém respirando no quarto não se cessou. Continuou, ritmicamente e sem pausa.

Eu fiquei deitado no escuro, ma enquanto eu estava ainda me recuperando de todo o terror instalado em mim das minhas experiências no quarto anterior, eu não estava completamente aterrorizado. O respirar era tão distante e diferente do chiado que eu ouvia durante meus encontros com a coisa da parede, que permanecia adormecida, e mesmo naquela idade eu achava tão súbito.

Mesmo assim, eu não me arrisquei, sai da cama e fui até o outro lado do quarto ligar a luz. O som tinha sumido. Eu fiquei olhando para aquela velha poltrona virada para minha cama, a poucos centímetros de onde eu dormia, então eu virei ela para o outro lado. Eu não tinha nenhum motivo para fazer isso, mas alguma coisa ali me encheu de medo.

 Na terceira noite eu já não estava tão destemido. Mais uma vez, eu acordei na escuridão. Deitado de costas eu encarei o teto que parecia feliz de absorver toda a luz laranja que vinha da rua. As árvores do lado de fora da minha janela balançavam com uma calma brisa fazendo que se formassem estranhas sombras se movendo nas paredes do meu quarto.

Eu não ouvia mais nada a não ser o barulho do tráfego noturno distante na cidade. Quando eu comecei a adormeceu novamente, eu ouvi; o barulho vinha dos pés da minha cama como se algum tivesse se movido, ou se arrastado no chão.

Eu levantei minha cabeça, espiando na escuridão, mas não vi nada estranho. Tudo estava como tinha estado o dia todo, nada fora do lugar. Eu passei meus olhos pelo quarto; algumas revistas em quadrinhos no chão, algumas caixas que ainda não tinham sido desempacotadas, a poltrona no mesmo lugar que eu deixara, de castas para a minha cama; não havia nada sinistro ali.

Eu estava agora totalmente acordado, olhando a televisão desligada considerando que devia ou não ver alguns programas noturnos. Eu teria que manter o volume baixo porque meu irmão ouviria no quarto do lado e mandaria eu desligar.

Quando eu me sentei direito na cama, eu ouvi de novo. Um rangido baixo, acompanhado de um som. O som do menor dos movimentos. Eu olhei de novo para o quarto. Agora as opacas sombras laranjas feitas pelas folhas da árvore em minha janela tomaram uma forma ameaçadora.

Eu ainda não via nenhum motivo para ficar com medo. Eu encarei a poltrona nos pés da minha e não vi nada incomum nela. É bem comum da mente levar algum tempo para realizar o que está realmente vendo. Leva tempo para ficar realmente apavorado quando você ve algo.

Sim, eu estava olhando para a antiga poltrona no escuto, mas eu também estava vendo que alguém estava sentada nela!

Na luz turva eu podia ver apenas o contorno de trás da cabeça, o resto estava oculto pelas costas da poltrona. Eu fiquei sentado sem emoções, olhando, rezando, esperando que meus olhos estivessem apenas criando uma imagem que não existia. O rangido lento de um movimento em seu trono obscuro gelou a minha essência, então eu percebi que não era um mero truque da falta de luz.

Em seguida ele passou para o lado direito. Eu sabia o que ele estava fazendo, estava virando para olhar pra mim. Foi difícil de fazer, pois mesmo naquele quarto tudo parecia mais escuro do que nunca. Eu vi o que parecia longos cinco dedos escorregando por cima da poltrona, e então outro cinco dedos. O quarto estava silencioso a única coisa que dava para se ouvir era o som da coisa se remexendo na poltrona, e o acelerar do meu coração.

No começo eu conseguia apenas ver o contorno da testa, mas então começou a se erguer revelando dois pontos de luz na escuridão de suas órbitas bem definidas.

Estava me encarando.

(Continua)

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