sábado, 23 de março de 2013

Estrelas



Sou cinco anos mais velho que meu irmão Bill, que tem 13. Infelizmente, nós ainda temos que dividir um quarto, pois só temos três quartos em casa: um para meus pais, uma para nossa irmã do meio (16 anos), e esse outro que nosso. Como todos irmãos, temos nossas desavenças, mas na maior parte do tempo Bill é bem maduro e nos damos bem.

Há alguns meses Bill se tornou fascinado pelo céu, especialmente em relação astronômica. Então de natal ele pediu para meu pai uma luneta profissional, onde poderia ficar observando e estudando (palavras dele) durante o dia e a noite. Infelizmente meu pai não teve dinheiro para comprar a luneta no natal, mas economizando até março (quando foi o aniversário de 13 anos de Bill), ele finalmente deu o tão esperado presente para meu irmão.

Quando não estava na aula, almoçando ou fazendo qualquer outra atividade diária, ele estava pendurada naquela luneta, mexendo-a de um lado pro outro para examinar o céu. Eu achava meio idiota, porque eu nunca tive realmente um interesse muito grande sobre aquilo. Enquanto eu ficava no computador jogando, ou fazendo algum trabalho da faculdade, Bill ficava olhando pela luneta na janela do nosso quarto, falando sobre as constelações, galáxias, e pesquisando em um livro de astronomia que eu tinha trazido da faculdade a pedido dele.

Mas em um sábado, a coisa ficou meio estranha. Ele tinha almoçado, jogando um pouco no vídeo game da sala, e feitos suas tarefas escolares; tudo isso com a desculpa de se distrair até que o céu escurecesse o suficiente para analisar as estrelas. Lá pelas sete da noite, eu entrei no quarto, indo em direção ao computador, e o vi sentado no banquinho habitual que ficava perto da luneta. Mas havia algo estranho: Bill não mexia nem um centímetro de seu corpo ou da luneta, como fazia de costume. Eu resolvi não perturba-lo, e fui mexer no meu computador. Lá pelas onze da noite, eu desliguei o PC e deitei na minha cama. Olhei para Bill e ele ainda estava na mesma posição.

- Bill, já é tarde pra caramba, você não vai dormir?

- Uhum, já vou.

Me virei pro lado e dormi. No dia seguinte, fomos tomar café da manhã lá pelas dez da manhã, e como estava curioso a respeito do que ele tinha achado de tão interessante no céu que não movia nem um centímetro de seu corpo por horas seguidas. A resposta que ele me deu, definitivamente não era o que eu estava esperando.

- Ahn... - ele deu uma pausa, e cerrou os olhos por um momento. Achei graça, porque ele não é do tipo de criança que fica embaraçada ou é tímido a respeito do que fala. - Você vai me achar meio idiota, ou talvez até louco pelo o que vou falar, mas juro que é verdade.

- Me teste - Falei, incentivando. Eu estava esperando algo sobre Ovnis, Ets, ou algum planeta novo, mas não era na disso. Ele se aproximou de mim, e falou bem baixinho.

- Eu achei estrelas que gritam.
Dei uma gargalhada alta, não pude conter.

-Não fode! - eu disse, num impulso. Eu geralmente não falo palavrão dentro de casa.

-Eu juro, mano. Juro de pé junto que é verdade. Eu posso te provar, eu não movi a luneta desde ontem a noite, então quando ficar mais escuro eu vou te mostrar.

- Tô pagando pra ver.

Esperamos o dia de domingo passar, e eu não posso negar que eu estava um tanto curioso e ansioso a respeito do que eu veria, e estava duvidando muito que ouviria alguma coisa. Mas tudo bem, eu esperei o anoitecer. Lá pelas seis e meia Bill gritou meu nome no andar de cima, e eu fui até ele. Ele me esperava com um sorriso na cara, e com certas olheiras no rosto. "Ele deve ter ficado a madrugada toda vendo isso" pensei.

- Senta aí - Ele falou, apontando para o banco - mas não move a luneta, se não já era.

Me sentei no banquinho e lentamente coloquei meu olho no lugar certo. Fiz tudo lentamente, porque mesmo que fosse uma viagem do meu irmão, eu gostava dele o suficiente para não estragar isso. Comecei a 
observar o céu. Na luneta eu via um grupo de estrelas, exatamente sete, espalhadas sem uma ordem correta e as mesmas brilhavam lindamente. Mas nada mais que isso.

- Não tô ouvindo nada, Bill.

- Shhh! - Ele fez - Espera mais alguns segundos.

De inicio eu não ouvi nada, mas com o tempo a coisa foi ficando mais sinistra. Um som baixo preencheu meus ouvidos, como um sussurro, em tom de lamurias atordoadas. Engoli a seco e não tirei meus olhos da luneta, eu não entendi (e ainda não entendo) porra nenhuma do que estava acontecendo. Depois de alguns minutos o que antes eram vozes baixas se transformaram em gritos agudos e realmente perturbadores. Eu não sei quanto tempo eu fiquei olhando aquilo, mas ao mesmo tempo que pareciam décadas, também parecia que eu não tinha ficado por mais de dez segundos na luneta. Eu estava meio que relutando contra meu próprio corpo, meu consciente, mas consegui parar de olhar. No momento que tirei o olho da luneta, os gritos se calaram.

- Acredita em mim agora?

Ouvi essa frase do meu irmão, enquanto ele se sentava no banquinho agora. Eu não faço ideia o que diabos 
aconteceu naquele momento, naquele tempo-espaço que não parece (e talvez nem seja) real. Coisa da minha cabeça? Imaginação? Não sei... só sei que nunca mais olhei para as estrelas da mesma forma.

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